Ser escritor em tempos de multimídia
Gilberto
Medeiros
Imagem: Entre Coisas. Fotografia do Autor. |
O escritor
é uma figura que atravessou os séculos, mesmo o milênios, na história da
humanidade. Por si só já é a personificação do trabalho que realiza. No entanto,
há sempre uma indagação quando se trata do trabalho do escritor: o ato de escrever seria
por si só uma profissão? Podemos definir, claramente, o trabalho do médico,
do professor, do advogado, do pedreiro entre muitos outros como uma profissão
sem medo de errar. Mas e o escritor? Exerce uma profissão ao escrever? Essa dúvida
é ainda mais latente quando se percebe que a maioria dos escritores exerce essa
função não como ato puramente profissional, mas como uma segunda, terceira e
até quarta opção. É visível que a
maioria dos escritores tem outra profissão. Assim, são professores escritores,
advogados escritores, médicos escritores, pedreiros escritores etc. Não
conheço, e não sei de alguém que conheça, um escritor que viva apenas de sua
escrita. No entanto, podemos definir o ato de escrever como uma profissão sim,
mesmo que seja cumulada com outras atividades. É uma profissão
reconhecida no Brasil como tal, embora não regulamentada, o que significa
que não está coberta pelos mesmos direitos que as demais profissões. Por outro
lado, temos também sindicatos
de escritores e outras instituições representativas
da classe, embora sejam mais iniciativas locais.
O trabalho
do escritor sempre foi um desafio em qualquer lugar e em qualquer tempo. No mundo
contemporâneo, especialmente neste momento em que vivemos uma explosão das multimídias, não é muito
diferente. Sei, por experiência própria, que integrar a classe de escritores
significa está apto para enfrentar muitos desafios e correr o risco de ter que
desistir no meio da estrada. Pois não se trata só de ser apenas um escritor, é
preciso fazer com que o que você escreva seja lido. Ou seja, um escritor
precisa, necessariamente, ter leitores para que sua escrita esteja viva e
presente. Não se trata apenas de vender o que se escreve, mas de fazer chegar,
o mais longe possível e a mais pessoas possíveis.
A vida
de um escritor, no Brasil, sobretudo, esta cercada de dificuldades. De 100
autores, dois ou três, com muita sorte, consegue fazer seu trabalho ganhar
destaque. A batalha para encontrar uma editora que queira publicar seu trabalho
é tão árdua quanto produzi-lo, e para muitos, é ainda mais árdua. Normalmente um
autor brasileiro, com publicações no Brasil, ganha apenas 10%
do valor de capa de um livro, o restante está dividido entre custos
editoriais, distribuição e com livraria. Temos ainda a tiragem muito limitada. Um
escritor, ou uma escritora, com uma média de leitores e um seguimento razoável,
faz uma tiragem de até 3.000 livros no Brasil, e demorará até dois anos para vendê-los.
Se conseguir vender todos os seus livros nesse tempo, ganhará, em média,
R$500,00 por mês. Uma renda da qual não dá para depender. Assim, a maioria dos
escritores acaba escrevendo para realizar um sonho, outros acabam conseguindo
entrar para o mercado editorial e ganhar mais dinheiro.
As dificuldades
para atrair a atenção de uma grande editora é hercúlea. Diante disso, surgem novas
formas de escrever e publicar o que produzimos. É preciso destacar que as
editoras também sofrem com isso, pois a burocracia e o desejo de acertar
sempre, o que as faz publicar apenas autores que vendem, têm feito muitas editoras
poderosas caírem e a maioria delas fundirem-se em grupos
editoriais maiores. Do lado dos escritores, surge a geração de escritores
multimidiáticos, isto é, escrevem em perfis e páginas de mídia digitais, tais
como o Facebook e o Instagram. Os poetas são os principais desta geração. Isso se
deve a um fator muito perceptível: a
poesia é bela, mas nem tão vendável. Dessa feita, nós, os poetas, abrimos
espaços à força nas mídias digitais para fazer nosso trabalho chegar mais
adiante. Criamos saraus online, blogs, perfis, páginas, fazemos lives,
publicamos e-books e trabalhamos no nosso próprio sistema de marketing. Realizamos
cursos à distância para saber como escrever, publicar e divulgar nossos
trabalhos e contamos com amigos para ajudar nessa divulgação e venda. Junto com
a geração de escritores de mídias, surge também a geração de leitores
multimidiáticos. O conforto de se ter uma biblioteca na palma da mão, sendo
acessada pela tela de um celular, a facilidade de se acessar essa biblioteca de
qualquer lugar, e o preço dos livros, levaram milhares de leitores a
redirecionarem suas intenções para a leitura digital. Outro seguimento
que viu isso e se apossou desta nova forma de se editar e se ler, foi
o seguimento dos editores. Assim, sugiram plataformas
especializadas em publicar, vender e distribuir livros e Apps
especializados em vendê-los e distribuí-los.
Porém,
ainda somos escritores de obras impressas. Nossa mentalidade é milenar. Um arquétipo bem estruturado e, por isso, ainda não conseguimos abrir mão,
totalmente, de um bom livro impresso. Somos frequentadores de bibliotecas, temos
estantes de livros em casa e ensinamos aos nossos filhos como ler e carregar um
livro debaixo do braço.
No entanto,
estamos nos tornando mais especializados em escrever e editar nossos próprios
livros, mesmo que sejam impressos.
Fazemos praticamente todo o trabalho. Possuímos
aplicativos de diagramação, estruturação das capas, montamos a fichas
catalográficas etc. Além disso, nos tornamos mais livres no uso de imagens
nas capas de nossos trabalhos, desde que sejamos os próprios autores ou que os
direitos sejam negociados adequadamente. Acabamos fazendo mais publicações de Edição
do Autor do que de outra maneira. De qualquer forma, estamos na geração que usa
a mídia a nosso favor para escrever, e o que buscamos é que este espaço nos
seja maior e nos proporcione a ampliação de nossos trabalhos para conquistarmos
nossas metas: escrever, publicar e sermos lidos.
Imagem: Fotografia da Tarde. Foto do autor. |
Nossa, como falou a realidade, eu, já desistir, meus últimos livros se encontram prontos e é o final de um escritor.
ResponderEliminarNada de desistir, Bira Macedo. estamos nessa juntos e vamos continuar. Tô chegando agora, se vc sair, fico tristo, moço.
EliminarParabéns Gilberto!!! Orgulho Corjesuense!
ResponderEliminarObrigado, Valmintas. Próximo artigo está chegando.
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