segunda-feira, 14 de setembro de 2015

A tecnologia no cinema

Tecnologia interativa em Capitão América 2: O Soldado Invernal


A aplicação de tecnologias interativas em produção de filmes obteve grande destaque, especialmente, a partir da década de 90. Não que isso não fosse possível antes desse período. O uso das tecnologias interativas na produção de filmes possibilita a interação entre admiradores, no caso o público, e os produtores. Harry Potter talvez seja o maior exemplo dessas aplicações ao se tratar de filmes juvenis. A franquia conta, além de oito filmes, com sites onde os internautas deixam suas impressões, além do site oficial da escritora da história no qual recebe a opinião dos seus leitores, com jogos, com adaptações para desenho e, esplêndido, uma nova cidade, começada a partir do Beco Diagonal, construída em Orlando, na qual reproduz, em grandes sets, partes da Hogwots. Esta cidade pode ser visitada em excursões na Inglaterra, para a qual convergem, atualmente, milhares de fãs da produção.
A produção do Filme Capitão América 2: O Soldado Invernal, apesar das muitas críticas, alguns afirmam haver um desprezo pelo uso da tecnologia interativa na produção do filme, conta com a técnica interativa em sua produção, como pode ser depreendido dos bônus do próprio filme, em que aparece uma agenda do protagonista com referências mundiais, na tentativa de construir um herói mundial, não apenas centrado nos EUA. As referências são, sobretudo, a personagens importantes de vários países, mormente os países mais influentes de cada região global. Escolhiam-se as personalidades com mais de cinco votações para entrar como referências no filme. O grande desastre está no Brasil, cuja referência foi nada mais do que Xuxa, como grande cantora e personalidade. Tristeza, visto que o Brasil oferece outras personagens muito mais importantes para a construção da memória cinematográfica e cultural. Shakira foi, também, pela América Latina, como cantora reconhecida internacionalmente. Uma referência um tanto fraca.

O fato é que a produção de Capitão América 2: Soldado Invernal, conta com o uso de tecnóloga interativa, seguindo a linha das grandes produções cinematográfica do momento. A parte final do filme, após os créditos, que dá ideia de uma sequência, exprime isso mais claramente, ao dar a opção a quem está assistindo de esperar um momento de revelação e fazer todo mundo correr para a internet em busca de maiores informações.

O uso da tecnologia interativa dá-se não apenas na produção do filme, mais aparece no próprio filme. O destaque recai sobre a web conferência do Conselho da Shield, na qual os conselheiros,
representantes poderosos de certos países, discutem com o secretário da mesma, que de fato exerce o poder, as problemática do lançamento de um novo programa nuclear.

As web conferências são uma realidade hoje, especialmente no mundo dos negócios e da educação. Mas também estão presentes em assuntos governamentais, podendo ser utilizadas mesmo na elaboração e assinatura de determinados acordos. O uso das tecnologias interativas na produção dessas novas conferências possibilita a redução de gastos com deslocamentos e a economia de tempo, deixando os agentes livres para outros empreendimentos mais rápido do que se pode esperar.

A web conferência da Shield, em Capitão América 2, representa não uma imaginação cinematográfica, mas reproduz a realidade nas discussões de vários elementos e situações entre pessoas, nações, ou entidades de mesmo interesse, podendo levar a conclusões positivas ou negativas, dependendo do que for acordado.

O Filme Capitão América 2: O Soldado Invernal, não é o primeiro a apresentar uma web conferência, mas talvez seja pioneiro em apresentá-la de maneira tão concreta, capaz de fazer-se crer na sua realidade. Daí o destaque dado neste texto para o uso de tecnologias interativas no filme, a despeito de outros.








quinta-feira, 10 de setembro de 2015

A tecnologia destruindo a história

11 de setembro: tecnologia de ponta a favor do desespero

Catorze anos se passaram e a memória coletiva da humanidade ainda retém imagens da queda das Torres Gêmeas, nos EUA, como poderosos fleches, como se o acontecimento fosse ontem. A dor causada em milhares de pessoas, entre elas amigos e familiares, com certeza persiste como marca que não cicatriza.
Pode-se indagar, ainda hoje, as causas de tal acontecimento. Claro que os EUA pretendem, após catorze anos, continuar eximindo-se da culpa de tais atentados. Obvio, por outro lado, que não se pode deixar de imputar culpa em quem realizou aqueles atentados.
Uma guerra, ou um atentado como o de 11 de setembro, nunca são resultados de coisa pequena. Fora preciso o acirramento dos ânimos, entre EUA e facções do Oriente, e mesmo governos legítimos do Oriente, durante muito tempo. Embora tenha gente que não considere este um problema real, um absurdo, de modo nenhum ele pode ser minimizado, o que seria uma falta de responsabilidade.
Após o atentado, mesmo a al-Qaeda assumindo sua autoria, desencadeou-se uma “caça às bruxas”  em termos ainda mais perigosos. A chamada “contraofensiva” lançada pelos EUA esmagaram milhares de pessoas do outro lado do mundo num processo de retaliação absurdo. Por outro lado, a popularidade do magno país das Américas ficou profundamente abalada, causando-lhe perdas irreparáveis. Não à toa que um novo presidente, com nova visão sobre política, economia e relações internacionais, subiu ao poder.
Segundo Eric Hobsbawm, as ações do EUA possibilitaram-lhe difundir o medo e o horror contra o terrorismo, escondendo, assim, as principais e maiores causas para os males da modernidade, inclusive o poderio exacerbado norte-americano sobre outros povos do mundo.
Passados catorze anos, prevalece a impressionante imagem do uso feito da tecnologia de ponta em favor da dor e do desespero. Como foi possível alguns homens, lotados em quatro aviões, driblarem o, dito, maior sistema de segurança do mundo e explodirem as duas torres mais poderosas já existentes? Pior: como isso pode ser perpetrado exatamente por um grupo isolado no Oriente sobre o qual pairava sérias dúvidas econômicas e tecnológicas?
Uma resposta à pergunta poder ser dada rapidamente: Bin Laden pôs os state no bolso e deixou todo mundo de boca aberta. Aberta, literalmente. Muitos gritando de medo e muitos babando impressionados. Imaginem a imagem ao, que esquematiza a posição dos “terroristas” dentro de um dos aviões que atingiram as Duas Torres. Um esquema como este, montado na realidade, demanda muito tempo, conhecimento do “solo” alvo e disponibilidade financeira e tecnológica invejável. Os mentores do 11 de setembro ficaram consagrados pela sua ousadia e coragem, mesmo que negativamente.

Passo a passo os mentores do atentado programaram suas ações, como pode ser visto na reportagem do G1 de 24 de novembro de 2011, quando dos dez anos do ocorrido. É claro que para realizar uma programação como essa, nos mínimos detalhes, e “sem erros”, fora necessário o conhecimento aprofundado das tecnologias de ponta, o domínio quase absoluto do uso de computadores e da internet, bem como dos modelos e das operações realizadas num avião e num aeroporto internacional.
O sequestro dos aviões, como é chamado, deu-se mediante horários programados e rotas pré-estabelecidas, a fim de não errar o alvo. E não erraram, exceto os aviões destinados à Casa Blanca e ao Pentágono, e isso apenas depois de soado o alarme e após a queda das Torres Gêmeas.
Enfim, vale indagar: quais os ganhos do uso exagerado das tecnologias de ponta para a humanidade? Claro que não se pode acreditar que seja totalmente negativo, mas deve-se reconhecer a preponderante falta de uma ética específica na produção, distribuição e manejo dessas tecnologias, especialmente quando o uso abusivo do poder entra em jogo.






sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Mapas Mentais

Cartografia Cognitiva: o que se tornou mais relevante

À primeira vista, parece coisa de grandes planejadores ou invenção de artista moderno. Mas a figura abaixo, que eu mesmo criei, faz parte de um mundo carregado de conceitos e significados. Não é à toa que o nome dado a esse tipo de trabalho é “Cartografia Cognitiva” ou Mapa Conceitual, como é mais conhecido.
A produção desse tipo de instrumento de trabalho não é recente, embora os esquemas mais antigos fossem feitos à mão numa folha comum de caderno, ou papel para mapas.
 Algumas das razões básicas para a produção de Mapas Conceituais estão na facilidade destes de apresentarem uma grande quantidade de conteúdos num espaço pequeno, o que exige do autor grande capacidade de interpretação e de resumir conteúdos; a elaboração de esquemas interpretativos para a apresentação de trabalhos acadêmicos; a capacidade de algumas pessoas de dominarem com facilidade vastos conteúdos e resumi-los precisamente, dispensando a escrita longa em favor de esquemas básicos que facilitem o estudo, entre muitos outros.
Eu tive um colega no curso de filosofia que, enquanto o restante da turma nos matávamos de prestar atenção e escrever até criar calos nos dedos, ele ficava de fones de ouvido, fazendo caretas e desenhando coqueiros, aroeiras, pinheiros..., todos com folhas, flores, ramos, tronco... de palavras e conceitos importantes do conteúdo ministrado pelo professor. No final das contas, tirava sempre 10 nas provas e nós outros, um 08, um 07 e mesmo um 06..., alguns um mísero 05 e outros, até um deplorável 04.

Foi o primeiro contato que tive com mapas conceituais, tudo feito à mal. Hoje existem sites especializados na elaboração desses instrumentos, embora o objetivo seja o mesmo.
Agora pense na figurinha bacana aí do lado. Embora tudo esteja em inglês e nem todos poderão entender o que diz, o dragão querendo devorar a ovelhinha é bem expressivo.

Numa escola no Brasil, isso bem que daria o que falar. Mas num pais mais democrático e menos tradicionalista, comunica a condição infalível de alguém expressar de maneira concisa e desenvolvida seu entendimento de determinado assunto. E ainda pode se divertir.

Um dos maiores desafios da atualidade é encontrar formas de compreender a avalanche de informações provenientes das rápidas mudanças nos sistemas informacionais e ofertadas pelas mídias informativas. Num contexto em que a Hipermídia adquire importância cada vez maior, lidar com as informações e os conhecimentos advindos da interligação de computadores e tecnologias digitais diversas, entrelaçadas pela internet, é um desafio enfrentado por muitos, mas superado por poucos.
Construir Mapas Conceituais tornou-se uma saída eficaz, especialmente para programadores, educadores, gestores, conferencistas e pessoas que lidam com funções do gênero.

Além dos Mapas Conceituais, como o da figura acima, outros elementos podem ser usados no resumo de conteúdos muito extensos, como as tabelas, os sumários, os índices... Temos também variantes dos Mapas Conceituais referidos basicamente pelo uso, ou não, de tecnologia ou pelo conceito que expressa: Mapa Mental, Mapa Argumentativo, Mapa Dialógico e Mapa da Web, este último produzido por sites e programas próprios. A criação e o uso desses elementos, de maneira especial dos Mapas Conceituais, recebe, hoje, a denominação de Cartografia Cognitiva.

Cartografia, como sabemos, pode ser uma coleção de mapas ou o estudo de mapas, mais precisamente esse último conceito. Se cognitivo, então é esquema de conhecimento, ou seja, um mapa onde se pode condensar as partes mais importantes de determinado conhecimento, a exemplo dos mapas geográficos, que traçam as linhas de deslocamento priorizando os pontos mais importantes, como portos, pousadas, cidades, hotéis etc.

Como exemplo, o Mapa de Charles Joseph Minard, desenhado em 1869, para descrever a tentativa do exército napoleônico de invadir e conquistar a Rússia. A genialidade desta obra está em apresentar, num espaço pequeno, o tamanho do exército, sua trajetória, sua localização, sua retirada, e mais: a temperatura em várias datas. A criatividade e a dinâmica desse mapa permitem compreender as causas da derrota do exército napoleônico. Um grande feito histórico, representado num pequeno pedaço de papel.

Hoje os Mapas Mentais são mapas de Minard. Precisam representar grandes elementos informacionais em pequenos esquemas desenhados (não mais à mão, embora este método ainda não esteja descartado completamente) em sites especializados, com programas próprios, como os indicados abaixo. A Cartografia Cognitiva, portanto, lida com o que é mais importante na elaboração do conhecimento.

Software de Cartografia para construção de mapas:

Cmap Tools, Nestor Web Cartographer, Compendium, Freemind, CHIC, FreeMind, VUE, Sciplore, Xmind.
Podem estar disponíveis para download.

Software online e sites:

Bubbl.us – http://bubbl.us/
LucidChart – http://lucidchart.com/

SpicyNodes – http://spicynodes.com/

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

A tecnologia mudando a história

Tecnologia, Hiroshima e Nagasaki

Não há um só dia em que não ouvimos falar dos avanços tecnológicos imprimidos pela ciência à história. O nível de elogios a esse avanço tomou tamanha expressividade que parece não haver nenhum malefício advindo dele. Nota-se, cada vez mais, a presença constante de uma ideia segundo a qual todos os males da humanidade parecem superados. As mídias sociais conformam-se com essa ideia a ponto de dar-lhe vasão imensurável. Mas sabemos que, assim como em tantos outros temas, esse é mais um disfarce que possibilita esconder os sofrimentos causados por esses avanços e, sobretudo, eximir a humanidade de alguns dos seus mais notórios erros.

De modo algum, quero, aqui, desmerecer essa parte fundante da criatividade humana e seus benefícios para o homem. Quero, apenas, lembrar que muita coisa ruim proveio do desenvolvimento tecnológico, especialmente nos termos capitalista, e ainda estão por vir.

No dia seis de agosto completaram-se 70 anos da explosão nuclear que arrasou Hiroshima e no dia nove, três dias, portanto, após esta, a que arrasou Nagasaki. A maioria dos jornais trouxe apenas uma pequena nota sobre esses acontecimentos nesta data “comemorativa”; alguns, dados mais relevantes; muitos, nada. A maioria de outras mídias, nem sequer uma lembrança. É como se 70 anos fossem como um milênio ou o tempo necessário para a memória se curar, ou simplesmente esquecer.

Embora aquelas explosões tenham ocorrido no Japão, sua responsabilidade é de toda a humanidade. Mesmo sendo parte de um projeto insano, como a Segunda Guerra Mundial, reflete os desdobramentos dos avanços tecnológicos pelos quais a humanidade tanto ansiou. Em outra época o homem poderia ter pensado tamanha destruição? Ela seria possível sem a os resultados de pesquisas científicas e tecnológicas possíveis apenas em nossa era?

Embora a maioria dos grandes males ocorridos, sobretudo nas guerras, tenha sido fruto de avanços tecnológicos, cada qual em seu tempo e de uma forma diferente, e impulsionados por decisões políticas advindas de interesses escusos, tais como as grandes empresas do Império Romano, os carros de guerra da Mesopotâmia e do Egito, os barcos de guerra da Grécia antiga, as torres de cerco e os aríetes medievais, entre outros, somente no século XX se chegou a uma arma suficientemente perigosa para a completa destruição da humanidade. Os dedos da morte lançados por aquelas duas bombas foram tão longos e poderosos que a própria morte encolheu sua mão de susto, e hoje reflete sobre a fatalidade de tal invectiva.

Poder ou não poder soltar uma nova bomba, eis a questão. É certo que muitos pensariam uma incursão como esta para pôr fim a situações antipáticas como o avanço do chamado Estado Islâmico sobre áreas do mundo oriental, ameaçando mesmo o Ocidente. Seria uma maneira fácil de lidar com a situação e resolvê-la rapidamente. Mas então? Soltar uma nova bomba ou contentar-se com mísseisnucleares teleguiados, que não causam mal menor, mesmo que cada um não tenha o mesmo poder de uma bomba nuclear, mas muitos causem o mesmo efeito?

Hiroshima e Nagasaki são, talvez, os dois exemplos mais claros dos malefícios provenientes do avanço desenfreado e sem ética da tecnologia. Porém, não se pode esquecer outros exemplos como os das guerras com uso de elementos químicos, as atuais guerras de mísseis nucleares e morteiros e os funestos experimentos científicos ocorridos nos campos de concentração da Segunda Guerra, ou ainda as experiências farmacêuticas em povos desprotegidos da África por grandes empresas de medicamentos, e mesmo ainda o memorável 11 de Setembro.

 Podemos ainda falar da “guerra” no uso de aparelhos digitais ultramodernos, aqueles que começam a deixar as pessoas encurvadas pelo mau uso, ou as emudecem no dia-a-dia, senão quando estão “dialogando” na frente da “telinha” (não da TV, como queira a metáfora, pois diante desta, a mudez ainda é maior, mas da telinha, no sentido de pequena mesmo). Convido vocês a assistirem ao vídeo a o lado, mesmo que muitos já o tenham visto em alguma mídia social.

 Quando vejo centenas de jovens, também adultos e mesmo crianças, desperdiçarem seu precioso tempo iludidos com alguns aplicativos sociais do momento, percebo como tais aplicativos são desenvolvidos para segar as pessoas, embotar sua inteligência reflexiva e esconder a realidade de dominação na qual ainda vivemos. Não podemos demonizar esses filhos legítimos da tecnologia, mas também não devemos endeusá-los. A divindade atribuída a seres puramente terrenos frequentemente resulta em erro, caso daquele bezerro de ouro criado pelos hebreus ao saírem do Egito: um símbolo da total escravidão para quem já estava liberto, mas não sabia o que fazer com sua liberdade.

Imagino que essa metáfora exemplifica bem o caso do mau uso da tecnologia feito, especialmente, pelos poderosos, mas ainda por todos, visto que entre os hebreus, a maioria era muito pobre.
O objetivo deste texto não é apontar o avanço tecnológico como erro humano, mas dar um alerta para o fato de que dele podem resultar grandes malefícios e fazer um pouco de justiça à memória de Hiroshima e Nagasaki, 70 anos depois de sua quase total destruição.

Seria hipocrisia de minha parte, sendo um apaixonado por tecnologia, repudiar a importância desta em nossas vidas, quer no passado, quer no presente, e ainda mais no futuro, quando tudo aponta para uma maior dependência da mesma. Sem tecnologia, este texto não estaria neste blog, dedicado à História e à Hipermídia, essa nova “mania” na produção de conhecimento no mundo das mídias, outro lugar com o qual devemos tomar certo cuidado.

Por fim, devemos aprender com os erros para evitarmos novos e maiores erros. Não podemos evitar o mal resultante dos experimentos feitos por poderosos em Hiroshima e Nagasaki, nem podemos corrigir esse erro, mas podemos impedir que novos males e novos erros provenham do mal uso de tecnologias. O passo mais próximo para isso é evitar o endeusamento desta, passando a vê-la e a usá-la apenas como criação humana: extremamente finita, apesar de quase ilimitada.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Hipermídia

Hipermídia: conectando mídias, abrindo espaços

Gilberto Medeiros

Imagine uma rede de pescar circular, digamos, aquele tipo de rede que, popularmente, é conhecida como “tarrafa”. Uma rede que, ao ser lançada ao rio, abre-se numa grande roda até atingir a água e depois desce às funduras, puxada pelas muitas chumbadas em suas bordas, fechando-se e enredando vários peixes, trazendo-os a lume quando arrastada de volta. Normalmente, cada tarrafa pesca um tamanho de peixe. Mas imagine que esta tarrafa, em particular, possua malhas para pescar todos os peixes, independentes de seus tamanhos. Então ela trará à tona todo tipo de peixe.

Penso que a Hipermídia seja algo desse tipo, embora não limitada a um círculo como uma tarrafa, mas ampla, cada vez mais ampla, pescando em sua rede todo tipo de mídia social, sites, blogs, todo tipo de mídia e dados de computadores. Pereira compreende a Hipermídia da seguinte forma: “uma nova e diferente forma de conectar diversas mídias (multimídia) ou dados de computadores”.

Analise agora esta figura:

Nada nela se parece com a imagem da rede/tarrafa que descrevi acima. Seu efeito, porém, é bastante parecido. Imagine os elementos representados nessa imagem e como ela foi criada. Sabemos, à primeira vista, que é uma imagem produzida em computador. Mas um artista poderia tê-la feito numa pintura à mão, sem dúvida, mas por qual motivo? Possivelmente o mesmo: representar, mesmo que de maneira “limitada”, o fenômeno que é a Hipermídia hoje. Mas sendo produzida em computador traduz de maneira mais eficiente o significado de Hipermídia. Digamos, é um ícone. Esta é uma das imagens mais acessadas atualmente e mais reproduzidas em trabalhos e textos da web, e mesmo acadêmicos, simplesmente pelo fato de expressar claramente a realidade da Hipermídia no contexto do Ciberespaço.

Pereira afirma que a “hipermídia configura-se como a nova linguagem própria do ciberespaço, sendo uma extensão do conceito de hipertexto” (no futuro falaremos de hipertexto). Podemos dizer da linguagem mais recente do Ciberespaço, pois conecta diferentes tipos de mídias nos espaços de ligação entre computadores e redes (o Ciberespaço, na concepção de Lévy).

Fica claro que Hipermídia é uma nova forma de ligar informações advindas de mídias espalhadas pelo globo, conectadas através da internet, representando uma nova linguagem, na qual dialogam elementos de comunicação como o texto, a imagem, o som e o vídeo, complementando informações e construindo novos domínios.

Através da Hipermídia, a conexão com o mundo torna-se mais ampla e mais eficaz, além de mais dinâmica, pois ela é uma forma de comunicação muito flexível e não linear. A não linearidade da Hipermídia possibilita o acesso a novos elementos, como textos, imagens, sons e vídeos guardados em outros ambientes virtuais através dos hiperlinks criados quando roteirizamos um objeto midiático.

Podemos dizer que a Hipermídia nos coloca, de fato, dentro da web e dentro do mundo digital midiático através das muitas ligações entre objetos diferentes, como os citados acima.

A figura de construção de fundo da Hipermídia pode ser representada na imagem a seguir. Cada hiperlink remete a uma nova figura ou mídia digital que, por sua vez, nos leva a outra figura ou mídia digital e assim sucessivamente, digamos, até o infinito onde podemos chegar por meio dessas ligações.

Voltemos à imagem da tarrafa do início deste texto: digamos que cada seta seja uma linha da tarrafa, cada imagem representando páginas, telas de computador, computador, fotografia de uma reunião etc., só pode ser, metaforicamente, um “peixe”.

Para experimentar como funciona a Hipermídia, convido o leitor a passar o cursor sobre cada imagem e cada palavra colorida no meio do texto e clicar sobre elas, pois elas são hiperlinks que remeterão a outras páginas da web onde poderão ser encontradas, tanto as imagens como explicações sobre os autores citados. Na verdade, este é apenas um hipertexto, um dos elementos mais utilizados na Hipermídia. Uma representação mais ampla requer a apresentação de sons e vídeos, além dos textos e imagens, compondo, assim, uma representação mais clara da nova linguagem do ciberespaço, a Hipermídia.

Podem consultar...

LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.
PEREIRA, Diego Vinicius de Castro et als. Programa de Formação Continuada. Módulo VII: Elaboração e Produção de Material em EAD. Parte II: Elementos de Multimídia e Hipermídia. Montes Claros – UNIMONTES, 2012.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Artigo Avaliação na EAD

A AVALIAÇÃO NA EAD: UM CAMINHAR DIFERENTE

Gilberto A. S. Medeiros1; Gilson Fonseca Mota2; Hilda Marta G. Antunes3;
1Habilitado em História pela UNIMONTES. Professor de história. Tutor presencial do Curso Técnico em Multimeios Didáticos do IFNMG. Coordenador/Diretor de Centro de Educação Infantil. 2Graduado em Sistemas de Informação. Trabalha na MCTrans. Tutor a Distância no IFNMG. 3Habilitada em Pedagogia pela UNIMONTES. Especialista em Educação Básica na Rede Pública na E.E. Levi Durães Peres em Montes Claros. Professora tutora no curso de Pedagogia da UNIUBE EAD em Montes Claros e Janaúba, MG.

Resumo: O presente artigo apresenta elementos que compõem o novo contexto educacional configurado pelos ambientes digitais de aprendizagem, assim como as suas relações com o processo de avaliação da aprendizagem. Apresenta também a necessidade de que haja uma preocupação em utilizar a avaliação como estratégia pedagógica, e não como instrumento de verificação da aprendizagem.

Palavras-chave: Educação a distância; avaliação da aprendizagem; ambientes digitais de aprendizagem.

Introdução

No mundo moderno predomina o conceito de evolução acelerada, sobremaneira, nas tecnologias. O fato de a sociedade viver submersa ao desenvolvimento tecnológico da humanidade, imprime a percepção de que mesmo a história parece andar mais rápido. Tal como a tecnologia e a história, a educação vem passando por novo processo de desenvolvimento.
O surgimento da EaD no século XIX trouxe à tona novo cenário da realidade educativa para a humanidade. Hoje, essa modalidade de educação submete-se ao desenvolvimento e ampliação das tecnologias da informação e comunicação (TICs), as quais, adentrando o ambiente educacional, possibilita novas maneiras de educar e avaliar o processo de ensino aprendizagem.
Este trabalho objetiva apresentar novos elementos do contexto de ensino aprendizagem na EaD, o uso de recursos digitais nesse processo e apontar a avaliação em EaD como processo contínuo e processual. Constitui-se de uma pesquisa bibliográfica.

Contextualizando a avaliação em EaD

A história do processo avaliativo da aprendizagem no Brasil demonstra atitudes centradas em quem avalia. Até muito recentemente, não se levou em conta as capacidades de aprendizagem do aluno como sujeito educacional, nem seu contexto. Os métodos avaliativos concentravam questões com perguntas e respostas exatas, mormente retiradas das anotações do professor, aplicadas no quadro negro, ou de algum material utilizado por este ao ministrar suas aulas. O nome comum para as avaliações resultantes desse processo é “prova”, escrita ou oral. Tal processo era demasiado subjetivo, no qual valia a opinião do avaliador, no caso o professor, em detrimento da opinião do avaliado, no caso, o aluno.
Na prática, qualquer profissional da educação, que prese o mínimo a aprendizagem de seus alunos, percebe que a avaliação da aprendizagem vem sendo aplicada de forma a “medir” os resultados de um processo de ensino aprendizagem em grande medida deficiente. Moura ressalta que “a avaliação tem sido praticada para aprovar ou reprovar os alunos, caracterizando-se como uma ameaça que intimida o aluno” (MOURA, 2007, p. 01).
Pode-se indagar sobre o processo de avaliação da aprendizagem em EaD a partir do exposto acima: se na educação presencial, onde ocorre maior contato entre professor e aluno o processo avaliativo ainda é, em grande medida, usado como meio para intimidar e medir conhecimento, como poderia ser na educação a distância, onde o contanto entre aluno e professor dilata-se para além das salas de aula comuns e do ambiente físico limitado por um prédio escolar e suas mediações?
Pinto acredita que a

avaliação da aprendizagem na EAD visa trabalhar uma complexidade maior de competências cognitivas, transformando o aluno em autodidata, onde ele tenta construir o pensamento, buscando os próprios caminhos e direcionamento para o estudo a distância (PINTO, 2009, p. 03).

O método proposto pela EaD, apresentado por Pinto, pretende levar em consideração as competências que o aluno desenvolve no processo de ensino aprendizagem. Primeiramente, considera o aluno sujeito do seu próprio processo educativo, não como mero espectador da aplicação de conteúdos totalmente pré-definidos pelo professor ou pelo sistema educativo. Considera-o capaz de construir seu aprendizado e protagonizá-lo. Depois, possibilita ao aluno organizar e definir seu tempo e espaço educativos, capaz geri-los a partir da sua liberdade em escolher onde estudar e como estudar.
Fator de suma importância na proposta avaliativa da EaD, referida por Pinto, é o de pretender transformar o aluno em autodidata, onde o mesmo pode construir não apenas o seu pensamento, mas contribuir para a construção do pensamento dos outros. Por outros entende-se, aqui, aqueles que estão em direta relação com o estudante: professores e colegas em primeiro lugar, família, amigos e comunidade em segundo lugar, leitores e admiradores de suas produções e criações  em último lugar.
O autodidatismo no processo avaliativo em EaD, além de ser uma propostas nova e ousada, vai contra quase tudo que se pode perceber em avaliação da aprendizagem até o momento. Soma-se a isso a condição desse processo de se dar de maneira contínua e processual, ou seja, durante a realização de todo um curso em EaD, e não apenas como fechamento de conteúdos ou de cursos, apenas através de “provas ou testes” (PINTO, 2009, p. 03).
Afora toda a discussão em torno da avalição em EaD como objeto novo no processo ensino aprendizagem voltada para uma nova forma de avaliar, permanece ainda o questionamento: por que “provas” de múltipla escolha ou mesmo abertas nas chamadas Avaliações Online” (AO)? Ou: por que avaliações presenciais, em determinados cursos, se a propostas inovadora é aponta outra direção?
Parte disso deve-se ainda a ligações aos métodos avaliativos tradicionais. Muitos dos avaliadores em EaD são também avaliadores na educação presencial que ainda não desprenderam-se de seus métodos avaliativos arraigados em subjetividades. Não raro, constata-se também a presença de alunos que acreditam que a forma correta de avaliar é aquela por meio de provas escritas ou orais, isto é, as avaliações advindas dos métodos tradicionais.
Outra parte da constante presença de provas escrita na EaD deve-se às normas legais estabelecidas pelos sistema educacionais e pelo próprio Ministério da Educação e da Cultura (MEC), exigindo que parte das avaliações em educação a distância seja presencial e objetiva, no sentido de respostas de múltipla escolha ou escritas, embora já existam entidades educativas que realizem suas avaliações totalmente online.
Mesmo a avaliação em EaD apresentando tais dificuldades, ela não deixa de ser um processo diferente do método tradicional, sobretudo porque pode-se desenvolver por meio de recursos tecnológicos introduzidos na educação pelo avanço das novas tecnologias da informação e comunicação, as popularmente conhecidas TICs. O uso de novos recursos tecnológicos no processo de ensino aprendizagem e da avaliação da aprendizagem em educação possibilitou o surgimento dos ambientes digitais de aprendizagem. O que caracteriza esses ambientes digitais de aprendizagem? O que são tais ambientes?
Segundo Caldeira,

a introdução de formas diversificadas de interação, a possibilidade do registro e eventual classificação dessas interações, as formas de intervenção do professor e dos pares são algumas das características que configuram os ambientes digitais de aprendizagem como espaços totalmente diferenciados dos presenciais, e ao mesmo tempo diferenciados do modelo clássico de educação a distância, onde aprender era uma tarefa praticamente solitária (CALDEIRA, 2004, p. 01).

            Os ambientes digitais de aprendizagem são ambientes como as plataformas Moodle, os Wikis, os AVAs entre outros, por meio dos quais pode-se realizar todo um processo educativo destacando a interação entre as partes: professores, gestores, alunos...
De tal modo, a interação entre avaliador e avaliado no processo de ensino aprendizagem em EaD é fundamental para uma avaliação contínua e processual. Além disso, conforme Caldeira, esses ambientes digitais de aprendizagem e avaliação registram e classificam as formas de interação entre professor e aluno, bem como possibilitam feedbacks entre os sujeitos da educação.
Vê-se, portanto, ampla diferença entre o processo tradicional de avaliação em educação e o processo proposto pela EaD. Em sendo a EaD, atualmente, modelo de educação quase totalmente online (OLIVEIRA e CRUZ, 2010) , via meios digitais, faz-se necessário uma breve abordagem dos principais recursos utilizados, ou que podem ser utilizados, na avaliação e EaD.

Usando novos recursos tecnológicos na avaliação da aprendizagem em EaD

            Antes de prosseguir aos recursos que podem ser utilizados na avaliação em EaD, é preciso destacar as características fundamentais dos ambientes digitais de aprendizagem que esses recursos possibilitam. Caldeira cita cinco características importantes: assincronicidade, comunicação escrita (tendo o texto por base), multiplicidade (interatividade), independência e mediação por computador (CALDEIRA, 2004, p. 02).
            Pode-se ainda acrescentar pelo menos mais três características importantes possíveis nos últimos anos pelo avanço das tecnologias e dos meios de comunicação: uso predominante da internet, uso de imagens e vídeos e mediação por meio de objetos midiáticos que não o computador (como smartfone).
            Pinto elenca uma série de recursos tecnológicos que podem ser utilizados como meio no processo de avaliação do ensino aprendizagem em educação a distância:

1) diários de bordo: Registro onde aluno e professor podem registrar todos os avanços no decorrer da disciplina, 2) fóruns de Discussão: Ferramenta assíncrona onde alunos, tutores e professores podem trocar informações e experiências sobre um determinado tema ou assunto pré-estabelecido para discussão, 3) chats (bate papo): Ferramenta síncrona onde alunos podem tiram suas dúvidas com os tutores e professores, debater algum assunto que ficou pendente (PINTO, 2009, p. 07).
           
            Além desses recursos, Pinto (2009) indica outros que podem ser utilizados por professores e alunos em avaliações do aprendizado em EaD. Tais como os mapas conceituais (chamados também de cartografia cognitiva), por meio dos quais os professores podem avaliar a capacidade de absorção de conhecimento do aluno e sua habilidade sintética; e várias ferramentas que os alunos dominam em seu dia-a-dia, como os “sites de relacionamentos orkut, Hi5 e MySpace, blogs, Second Lifev e Jogos Interativos” (PINTO, 2009, p. 07), por meio dos quais os alunos podem expressar suas opiniões e publicar mensagens curtas bem como posts significativos sobre educação entre outros temas.
Ainda podem ser utilizados os sites de compartilhamento de vídeo e fotos, como: youtube e Picassa e Flickrvi, por meio dos quais os alunos podem compartilhar produções realizadas em atividades várias em cursos de EaD ou vídeos sugeridos por eles como fontes para ampliar o conhecimento; o ning, o facebook e mesmo o twitter, pelos quais os alunos podem criar redes de comunidades alcançando maior interação no processo educativo.
 Por fim, Pinto aponta a Wiki como fundamental na avaliação em EaD, conceituando-a como “ferramenta online para a criação colaborativa de páginas para a internet, tendo como principal objetivo a construção de textos de forma colaborativa onde não existe um único autor e sim um conjunto de colaboradores” (PINTO, 2009, p. 08).
O uso da Wiki no processo avaliativo em EaD destaca o autodidatismo do aluno e a interatividade na aprendizagem em EaD como pontos fundamentais na construção de uma nova forma de avaliar na educação.

Conclusões

Após o exposto neste texto, conclui-se que o processo de avaliação da aprendizagem em EaD precisa e deve-se configurar em um processo contínuo, que considere o aluno como sujeito e como autodidata. Esse processo ainda é um desafio para a educação a distância devido ser uma novidade.
Conclui-se ainda que a EaD pode disponibilizar de vários recursos tecnológicos para sua avaliação da aprendizagem, afastando-se, assim, cada vez mais, dos métodos tradicionais e subjetivistas, nos quais o aluno não tem voz ou vez, ficando restrito ao professor a decisão de indicar o certo ou errado na elaboração do conhecimento por meio de avaliações restritivas e subjetivas.
Por fim, o uso de novos recursos em avaliação da aprendizagem em EaD, não é apenas resultante das transformações tecnológicas modernas, mas urgência educativa que visa ampliar os horizontes da avaliação em EaD, valorizando o contexto de vida e cotidiano do aluno e suas perspectivas educativas e profissionais.

Referências

CALDEIRA, Ana Cristina Muscas. Avaliação da aprendizagem em meios digitais: novos contextos, 20004. Disponível em http://www.abed.org.br/congresso2004/por/htm/033-TC-A4.htm Acesso em 06 de ag. de 2015.

OLIVEIRA, Valéria do Carmo de; CRUZ, Fátima Maria Leite. A avaliação da aprendizagem na educação a distância: um estudo sobre as concepções docents na ead online. IN 3º Simpósio Hipertexto e Tecnologias da Educação: redes sociais e aprendizagem. Anais Eletrônicos, 2010. Disponível em https://www.ufpe.br/nehte/simposio/anais/Anais-Hipertexto-2010/ Acesso em 06 de ag. de 2015.

MOURA, Lucilene Tolentino. Avaliação escolar e afetividade. 2007. Disponível em http://saci.org.br/?modulo=akemi&parametro=19976 Acesso em 06 de ag. de 2015.

PINTO, Ibsen Mateus Bittencourt Santana. Avaliação da aprendizagem na ead. 2009. Disponível em http://www.abed.org.br/congresso2009/CD/trabalhos/2752009231050.pdf Acesso em 06 de ag. de 2015

segunda-feira, 27 de julho de 2015

TCC Especialização EAD IFNMG

ARTIGO DE TCC ESPECIALIZAÇÃO EAD IFNMG

O DOCENTE EM EAD NA ERA DA CIBERCULTURA
Gilberto Aparecido Soares Medeiros[1]
Hilda Marta Guimarães Antunes[2]
Professora Orientadora: Daniele Rocha Silva[3]

Resumo: A EaD não é um modelo de educação exclusivo da contemporaneidade, ela teve início na segunda metade do século XIX e estendeu-se ao longo da história moderna através de cinco gerações. Neste processo, a figura do docente em EaD passou por várias configurações até a formulação mais comum na atualidade: o docente virtual, que desenvolve suas práticas diretamente no ciberespaço. Este trabalho objetiva analisar e discutir a relação existente entre a prática do docente em EaD e a cibercultura e a influência desta na vida profissional daquele, partindo da questão: qual o impacto da cibercultura na prática docente em EaD no contexto contemporâneo? Justifica-se pela constatação de um discurso cada vez mais profundo em torno do docente em EaD e de sua relação íntima com a cibercultura. A realização do trabalho deu-se por meio da escolha, leitura e análise de literatura já existente na área, sendo uma revisão literária, constituindo-se de uma pesquisa bibliográfica.
Palavras-chave: EaD, Docente EaD, Cibercultura, Ciberespaço, Novas Tecnologias da Informação.
Introdução
       A Educação a Distância não é uma prerrogativa contemporânea. Ela surgiu no contexto da segunda metade do século XIX, chegando ao Brasil na primeira metade do século XX. Seus métodos, objetivos e materiais variaram conforme o contexto histórico, o lugar e os interesses políticos. De modo geral, a EaD passou do método a distância via correspondência impressa para o uso do rádio, da televisão e, de modo definitivo, do computador e da internet.
         A figura do docente em EaD também variou conforme a própria EaD. Se antes era um estranho, passou a figura midiática através do uso das ondas do rádio e da imagem da televisão. Atualmente, acampa uma nova forma, seja qual for o método ou meio de comunicação usado para transmitir, produzir e receber conhecimento.
        Pode-se dizer que o docente EaD na contemporaneidade é um ser midiático, visto que a maior parte da EaD dá-se por meio das tecnologias da comunicação e informação (TICs). Porém, não deixa de ser especificamente humano e interativo.
       A interação entre docente EaD e Cibercultura tem produzido novas formas de comportamento, sobretudo por uma determinante influência desta sobre aquele. Essa relação não é de todo negativa, pois possibilita ao docente reinventar seus métodos educativos e dá-lhe a oportunidade de aprender novas maneiras de educar.
         A proposta deste trabalho parte desse pressuposto para sua elaboração, indagando qual o impacto da cibercultura na prática docente em EaD no contexto contemporâneo. Objetiva analisar e discutir a relação existente entre a prática do docente EaD e a cibercultura e a influência desta na vida profissional desse educador na atualidade.
         Este trabalho justifica-se pela constatação de um discurso cada vez mais profundo em torno do docente EaD e de sua relação íntima com a cibercultura, especialmente no que diz respeito à sua atuação como educador usando as novas tecnologias e os diferentes ambientes virtuais de aprendizagem, bem como as diversas redes sociais e meios de comunicação disponíveis. Parte da questão: qual o impacto da cibercultura na prática docente em EaD no contexto contemporâneo, visando contribuir no debate sobre o assunto.
         A realização do trabalho deu-se por meio da escolha, leitura e análise de literatura já existente na área, sendo uma revisão literária, constituindo-se de uma pesquisa bibliográfica, que é aquela “elaborada a partir de material já publicado, constituído principalmente de livros, artigos de periódicos e atualmente com material disponibilizado na Internet” (SILVA, 2015, p. 21). Após a análise da bibliografia, elaborou-se o presente texto par ser apresentado à banca Examinadora do Curso de Pós-graduação Latu-Sensu em EaD do IFNMG para análise e aprovação seguido depois de apresentação através de pôster em seminário final do curso.
REVISÃO DA LITERATURA
Aspectos históricos da EaD
         Ao longo dos anos, o termo Educação a Distância tem sido referido por diferentes terminologias: “ensino aberto, ensino a distância, formação a distância, entre outras” (OLIVEIRA, 2012, p. 57). Atualmente são mais comuns as terminologias Educação Aberta e Educação a Distância. Esta última tendencia a predominar, representada, normalmente, pela sigla EaD. Este trabalho opta pelo uso desta sigla por sua atual representatividade e facilidade.
         Para Oliveira, a EaD “deve ser compreendida como uma prática educativa situada e mediatizada, uma modalidade de se fazer educação, de se democratizar o conhecimento” (OLIVEIRA, 2012, p. 57). Nessa forma de fazer educação, “a educação clássica foi reconfigurada por uma nova possibilidade, a flexibilidade de tempos e espaços para ensinar e aprender” (OLIVEIRA, 2012, p. 59).
Em EaD, o protagonismo do aluno é fundamental, apesar da figura do docente ser indispensável. A organização do tempo, a autonomia e a dinamização dos espaços educativos são outras características importantes, sem as quais docentes e discentes não conseguem levar a termo uma educação de qualidade.
             Embora pareça ter surgido muito recentemente, devido à sua expansão nas últimas décadas, a EaD possui uma história longa, identificada no processo da história moderna desde a segunda metade do século XIX, na Europa. Vários autores dividem a história da EaD em pelo menos quatro gerações e Oliveira (2014) e Santos (2009) apontam a possibilidade de se falar numa quinta geração, como apresentado a seguir.
           A Primeira geração de EaD surge no fim da segunda metade do século XIX indo até o início da segunda metade do século XX. Conforme Oliveira (2014) e Trenk (2014), nesse período prevaleceu o ensino por correspondência, utilizando-se dos meios de transporte como trens e de comunicação, como os correios, para difundir a formação educativa dos alunos ligados a alguma instituição. Todo o material “didático” era impresso com tarefas e exercícios. Não havia interatividade entre os docentes e os discentes e os cursos eram apenas informativos. Para Trenk (2014), o objetivo dos cursos era a formação industrial de massa, visando suprir uma mão de obra escassa no período. Trenk (2014) denomina esse modelo de formação em EaD de “fordismo”.
          No Brasil, conforme Pesce (2011), essa modalidade educativa iniciou-se na década de 1940, com a Fundação do Instituto Rádio-Monitor, o Instituto Universal Brasileiro e o Projeto Minerva, como seus pioneiros. Próxima da primeira geração europeia de EaD, e integrada em sua segunda parte, esse processo educativo cumpriu o papel a que se destinava no Brasil: “promover acesso ao conhecimento socialmente legitimado a segmentos sociais menos favorecidos, mediante ações de educação formal e não formal” (PESCE, 2011, p. 10), através de material impresso e do rádio.
             A segunda geração, conhecida como “geração analógica”, ocorreu entre os anos 1960 e 1980. Teve início com o surgimento das Universidades Abertas de ensino a distância em vários países da Europa, Ásia e África, cujo modelo seguido era o da Open University britânica, fundada em 1969 (TRENK, 2014). Oliveira caracteriza a Open University como “universidade de ensino a distância: acesso livre. Material de curso pré-preparado por equipe, transmissão por rádio e televisão. Orientação e aulas particulares em centro de estudos, seminários” (OLIVEIRA, 2012, p. 64).
           Essa geração caracterizou-se pelo acréscimo de novas mídias, como “a televisão, o rádio, as fitas de áudio e vídeo, o telefone e, mais tarde, na década de 1980, os computadores” (TRENK, 2014, p. 69). A metodologia desse período baseava-se no uso da teleducação/telecursos, via programas radiofônicos, televisivos, aulas expositivas, fitas de vídeo e material impresso. Predominava a comunicação assíncrona (OLIVEIRA, 2014).
            Segundo Trenk, o contexto histórico deste período era o  neofordista, caracterizado pela “alta inovação dos produtos e na variabilidade do processo de produção, mas manteve do fordismo a organização fragmentada e controlada do trabalho” (TRENK, 2014, p. 69). A EaD procurou adaptar-se às demandas sociais, surgindo duas tendências: a permanência do modelo anterior e uma “proposta incipiente de educação mais flexível quanto aos conteúdos e mais personalizada no atendimento ao aluno” (TRENK, 2014, p. 69). Começa, então, a flexibilização da EaD.
           A terceira geração de EaD surge a partir da década de 1990, baseada no uso do computador e da internet, desenvolvendo a comunicação síncrona e assíncrona (chats, fóruns, listas de discussão...). Neste período, conforme Oliveira (2014), há uma viabilização de novo tipo de interação social que supera a “distância social”, a “distância geográfica” e o “tempo” entre docentes e discentes.
       Trenk (2014), descreve a acoplação de novos elementos pela EaD, como o videotexto, o microcomputador, a tecnologia de multimídia (com sons, imagens, textos), o hipertexto e redes de computadores com utilização de banda larga, características próprias da educação online. Ocorre, nesta geração, o desenvolvimento das tecnologias da informação e da comunicação (TICs). Surgem o espaço virtual de aprendizagem e um processo educativo mais centrado no aluno. Há uma redefinição dos objetivos e estratégias da EaD, a partir dos paradigmas pós modernos: inovação, mediação, interação e criação. Desenvolve-se uma EaD mais dinâmica, mas resistente: apesar das novas abordagens e dos novos paradigmas, predomina o modelo pedagógico de oferta e distribuição de informações, próprios da comunicação de massa.
A quarta geração da EaD é marcada pelo uso de aparelhos móveis, munidos de tecnologias inovadoras mais avançadas do que as encontradas  nos próprios computadores. Entre esses aparelhos destacam-se o celular, o smartphone e o tablete, considerados tecnologias da comunicação e informação acessíveis a um grande número de usuários,
capaz de viabilizar a troca de informações e de produção do conhecimento em tempo instantâneo possibilitando estabelecer e manter a interação dos participantes de uma comunidade de aprendizagem com maior qualidade e rapidez (OLIVEIRA, 2014, p. 07).

Segundo Santos (2009) e Oliveira (2014), já se pode falar em quinta geração de EaD, demarcada pelo uso da banda larga e democratização da internet. Neste sentido, a EaD caracteriza-se pelo uso variado de plataformas online, como o Moodle e o AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem), além de outros meios de comunicação, como as mídias sociais. Santos afirma sobre a quinta geração de EaD:
identificada por James C. Taylor como sendo a reunião de tudo o que a quarta geração oferece mais a comunicação via computadores com sistema de respostas automatizadas, além de acesso via portal a processos institucionais. Enquanto a quarta geração é determinada pela aprendizagem flexível, a quinta é determinada por aprendizagem flexível inteligente (SANTOS, 2009, p. 5659).
Os novos procedimentos em EaD estão diretamente inseridos em um novo fenômeno denominado Cibercultura, ligado ao avanço da tecnologia, da internet, dos novos meios de comunicação e das redes sociais. Há quem diga que a EaD, no estágio de desenvolvimento em que se encontra, é resultado deste fenômeno (SANTOS, 2011).
No contexto das discussões em EaD, Silva (2011) diferencia EaD de EOL: Educação a Distância de Educação Online. Parece meio ilógico tal diferenciação, uma vez que a educação a distância utiliza os meios de comunicações e as plataformas online para se desenvolver. No entanto, esse pensamento não é de todo inadequado, pois EaD estende-se para além dos meios de comunicação digitais, podendo ainda ser realizada através da televisão ou mesmo do correio. As novas tecnologias não impediram uma constante nos métodos mais antigos na EaD, apesar da cibercultura e do ciberespaço.
Cibercultura: entendendo o fenômeno
              Para se entender melhor a figura do docente em EaD atualmente e sua relação constante com a cibercultura, é necessário compreender o fenômeno da cibercultura, seus alcances e sua importância para a docência online. Faz-se necessária uma descrição de algumas definições de cibercultura e ciberespaço para compreensão da docência em EaD.
              Para a compreensão dos conceitos de cibercultura e ciberespaço, partir-se-á dos conceitos empregados pelo filósofo francês Pierre Lévy, aceitos como mais eficazes na definição desses dois fenômenos da tecnologia e da comunicação contemporâneas.
              Pierre Lévy define a cibercultura como o “conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço” (LÉVY, 1999, p. 17). Por ciberespaço o autor compreende o “novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores” (LÉVY, 1999, p. 17).
Poder-se-ia imaginar que a cibercultura seria um fenômeno ligado apenas ao avanço tecnológico e informacional, porém, uma análise mais clara da definição de Lévy demonstra que o autor compreende por cibercultura um “conjunto de técnica”, não apenas materiais, mas também intelectuais.
            O conceito de intelectualidade aplica-se, entre os estudiosos, ao conhecimento humano. Logo, aquilo que Lévy conceitua como cibercultura envolve diretamente o conceito de cultura produzida pelo ser humano. O autor aplica em seu conceito os substantivos “práticas”, “atitudes”, o advérbio “modo de pensamento” e o substantivo “valores”, vocábulos significativos das ações humanas e de seu comportamento. De tal modo, o conceito de cibercultura de Lévy abarca o envolvimento do ser humano no desenvolvimento da mesma. Tal desenvolvimento, para Lévy, liga-se ao crescimento do ciberespaço.
           Ciberespaço na concepção de Lévy é o novo meio de comunicação que resulta da ligação e interligação de computadores em todo o mundo. É o novo espaço, construído através de ligações virtuais, para as quais as potencialidades da internet 2.0 são fundamentais, sem as quais, não é possível. Esse novo meio de comunicação abrange as comunicações sonoras (rádios, celulares, softwares de fala, televisão, vídeos etc.), as comunicações digitais (textos, hipertextos) e as comunicações imagéticas (figuras, fotos, imagens...), entre outros.
         O termo especifica, na concepção de Lévy, não apenas a infraestrutura material da comunicação digital, aquilo que ele chama de rede mundial de computadores, mas também o universo oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo. O ciberespaço, portanto, é fruto da cultura produzida pelo homem, tal como a cibercultura e, consequentemente, estão intimamente ligados.
Diante do exposto, a sociedade e, por conseguinte, a educação, especialmente a EaD, caminha numa direção sem volta: aquela da inovação tecnológica da cibercultura e do ciberespaço. Pode-se dizer, então, que:
navegar é preciso na era da cibercultura. Uma era marcada pela forte presença das mídias digitais em nossas vidas. E, a cada instante, transforma a nossa relação com o mundo de várias formas, e influencia, inclusive, os modos de ensinar e aprender (PROGRAMA SALTO PARA O FUTURO, 25.04.2011).

Apesar da definição, que se tornou clássica, de Pierre Lévy, outros autores apresentam novas definições, embora nenhuma contradiga a de Lévy, apresentando a cibercultura e o ciberespaço diretamente ligados à cultura citadina, como um fenômeno resultante, em parte, da cultura que surge do crescimento moderno das cidades. Santos define cibercultura como “a cultura contemporânea estruturada pelo uso das tecnologias digitais em rede nas esferas do ciberespaço e das cidades” (SANTOS, 2011a, 05).
Santos insiste na importância da ligação entre cibercultura e espaço urbano. Portanto, “cibercultura é a cultura contemporânea que conecta várias redes via mediação do digital, e isso não fica só no ciberespaço, mas afeta totalmente as cidades, todos os equipamentos culturais, inclusive a escola e a universidade” (SANTOS, 2011b). Na concepção de Santos, escolas e universidades estão incluídas no conceito de “equipamentos culturais”, ou seja, produções humanas modernas diretamente ligadas aos avanços tecnológicos da produção cibercultural.
Tomando em consideração o contexto no qual Oliveira insere a quinta geração de EaD, pode-se concluir que Santos afirma que
a cibercultura vem se caracterizando pela emergência da Web 2.0 com seus softwares e redes sociais mediadas pelas interfaces digitais em rede, pela mobilidade e convergência de mídias, dos computadores e dispositivos portáteis e da telefonia móvel (SANTOS, 2011a, 05).
Será possível, portanto, dar credibilidade ao pensamento daqueles que afirmam que a EaD, como configurada atualmente, seja fruto desse processo cibecultural. Oliveira enfatiza: “a Educação a Distância tem, na mídia, a essência do processo de aprendizagem, do conteúdo e do aluno, bem como da relação entre professor e aluno” (OLIVEIRA, 2012, p. 59). Ou seja, é impossível falar de EaD sem falar de mídia, cibercultura e ciberespaço. A EaD trilha as instâncias das conexões do ciberespaço com tanta facilidade como as respostas de um bate papo num chat aberto em internet banda larga 2.0.
Neste trabalho, a pergunta mais instigante é: como fica o docente em EaD na era da cibercultura? Uma resposta resumida e precisa é apresentada por Oliveira: “as velozes mudanças tecnológicas impõem outro ritmo à tarefa de ensinar e aprender” (OLIVEIRA, 2014, p. 09). Ou seja, o docente em EaD na era da cibercultura precisa reinventar seus métodos de ensino-aprendizagem, adotando, especialmente, as novas tecnologias no desempenho de suas atividades.
O docente em EaD na era da Cibercultura
Antes de abordar diretamente o docente em EaD na era da cibercultura, faz-se necessário entende-lo. Para Mill,
antes de ser um profissio­nal da educação, todo educador é um sujeito, um ser humano. (...) um sujeito complexo, com saberes especiais, adquiridos por uma formação específica, com diversos preconceitos e motivações. É esse sujeito-profissional que dará suporte aprendizagem aos estudantes (MILL, 2012a, p. 20).
          Mill afirma que esse docente é, antes de tudo, um ser humano, um sujeito construtor de sua própria história, que desenvolve pontos de vista próprios sobre si mesmo, sobre os outros e sobre sua profissão. É sujeito do processo de ensino-aprendizagem com o qual está envolvido tal como o estudante ou os gestores, e gestor, na concepção de Mill (2012b).
             Esse sujeito é complexo, com saberes próprios, adquiridos através da experiência e por meio de estudos. Como qualquer pessoa, possui preconceitos sobre muitas coisas, inclusive sobre a educação a distância. Pode ainda ser um docente que tomou a educação a distância como processo educativo ineficiente ou de pouca importância, vindo depois integrá-lo como realização pessoal.
          Em que se difere o docente em EaD do docente em educação presencial? Sinteticamente, diferencia-se no domínio do mundo tecnológico que se lhe impõem na execução do seu ofício, na diferenciação de seus métodos pedagógicos e na ampliação dos saberes. Nos outros aspectos, são iguais.
           Relativamente ao domínio tecnológico, os conhecimentos do docente em EaD são recentes, especialmente ao se tratar das tecnologias de comunicação e informação (TICs). De qualquer maneira, mesmo no período da EaD por correspondência, o docente precisava conhecer os meios pelos quais enviar e receber materiais de estudo, avaliações e certificados. A questão primordial aqui é quem era o docente, como se dava o seu trabalho e qual a sua importância em cada fase da evolução histórica da EaD.
        Pela análise feita na primeira parte deste trabalho, percebeu-se um distanciamento entre o docente e o estudante de EaD. Se atualmente esta distância trás consequências negativas na formação a distância, apesar de toda interação via ferramentas de informação e apesar da tutoria presencial, entre a primeira e a terceira geração de EaD tal distância apresentava consequências ainda mais graves. Se há uma constante fundamental nesse processo histórico da EaD é que ela “não prescinde do professor” (RAMONY, 2012, p. 59).
            Não prescindir do professor, no entanto, não faz deste a figura central e mais importante no processo de ensino aprendizagem na EaD. Na construção da identidade entre docente e estudantes em EaD, a maioria dos estudiosos aponta o estudante como principal sujeito do processo ensino aprendizagem. Porém, o docente não pode perder sua posição significativa como sujeito também desse processo.
             Reconhecesse-se aqui a dificuldade de aceso a materiais que abordem diretamente a figura do docente EaD antes do surgimento das TCIs. Por isso, partir-se-á das contribuições dos autores já citados neste texto, mormente as contribuições de Trenk, para sua composição.
           Na primeira geração de EaD, o docente, de acordo com o estudo de Trenk (2014), não passou de um completo estranho do outro lado do processo de ensino aprendizagem. Separados por estações de trem, ou postos de correios, docente e aluno jamais se encontraram. A influência entre ambos não passou da troca de informação em material impresso. Esses sujeitos estranhos empenhavam-se, na análise de Trenk, em formar e oferecer mão de obra capacitada ao mercado de trabalho em expansão.
          Na segunda geração de EaD, a relação entre docente e aluno não foi muito diferente a princípio. Depois, houve uma mudança nesse processo, tornando possível saber quem era o docente, embora este pouco soubesse sobre o aluno, vendo sua figura na tela da TV, ouvindo sua voz no rádio, e mesmo através de rápidas conversas pelo telefone. O computador, ao ser adicionado ao processo educativo em EaD, possibilitou o surgimento de um novo modelo de docente e de aluno: o docente e o aluno virtuais, cuja interação dá-se através da internet.
            Neste período ocorre um fator importante: a criação das Universidades Abertas em várias partes do mundo (TRENK, 2014, p. 01; OLIVEIRA, 2012, p. 64). A partir deste momento, o docente EaD estará ligado diretamente a uma instituição de ensino superior conhecida e se, na geração anterior, essa instituição era um tanto obscura (sindicatos, associações, empresas...), nesta geração aparece bem definida, dando maior credibilidade e maior formalidade à educação a distância.
            Durante a terceira geração de EaD, fala-se do docente caracteristicamente midiático e virtual. Sua ação educativa dá-se quase totalmente no ambiente virtual. Ampliam-se as ferramentas de produção de material online e plataformas de atividades educativas, por meio das tecnologias de informação e comunicação (TICs) e via internet 2.0. Necessariamente, muda-se a formação do docente EaD e suas práticas e métodos precisam responder a novas exigências educativas e de mercado (TRENK, 2014).
Na quarta geração da EaD, o docente torna-se um sujeito definitivamente online, a não ser pelo tutor presencial que desenvolve parte de suas atividades fora das plataformas virtuais. Exemplo desse docente é descrito por Oliveira em pesquisa de 2009:
uma pessoa está na Avenida Afonso Pena, Belo Horizonte, Minas Gerais, às seis horas da tarde, dentro de um ônibus, voltando do trabalho para casa, depois de já ter ministrado sua carga horária de aulas numa instituição presencial. Ao mesmo tempo, está checando seus e-mails por celular, atendendo alunos online (OLIVEIRA, 2009, p. 65).
          O docente descrito por Oliveira em seu trabalho não apenas é um docente online, mas confronta-se com a definição do espaço/tempo de trabalho. O lugar do docente não é apenas a posição como docente que ocupa, mas ainda o lugar de onde atua.
A figura docente da quarta geração de EaD estende-se para a quinta geração, conforme se pode falar de quinta geração, tal qual afirmam Santos (2009) e Oliveira (2014). É neste ponto que serão abordados outros indícios fundamentais da prática docente em EaD na era da cibercultura, sobretudo sua atuação os ambiente virtuais.
Na era da cibercultura, Trenk afirma que
a EAD exige do quadro docente uma nova postura. O ciberespaço, reconhecidamente um espaço social comunicativo e de produção compartilhada, leva à reflexão de que o saber não é mais um produto a ser difundido, mas o resultado de um trabalho de construção, a partir de práticas educativas que têm a comunicação midiatizada a serviço da formação do aluno (TRENK, 2014, pp. 70/71).
O desenvolvimento da cibercultura e do ciberespaço impôs ao docente EaD uma nova dinâmica. Seu trabalho já não se restringe a abrir espaços de discussão online, dar feedback, incentivar atividades e outra tarefas do gênero. Algo de novo deve ser ofertado ao processo ensino/aprendizagem por parte do docente. Trenk resume as novas funções do docente EaD em dois pontos importantes. O primeiro é que “o professor pode ser o autor do material, organizando e elaborando os conteúdos” (TRENK, 2014, p. 71). Por meio dessa função, as habilidades do docente EaD devem voltar-se para:
a seleção dos conceitos de cada aula, que devem ser poucos; a organização do material em relação ao tempo do aluno para realizar as atividades; a edição das mensagens quanto às fontes, tamanhos, cores e fundos; o uso de recursos visuais, sons e animações, entre outros detalhes (TRENK, 2014, p. 71).
          O docente é, aqui, um autor. Essa nova função dá ao docente EaD nova posição como educador: ele não será apenas um repetidor das ideias de outrens, podendo ele mesmo produzir parte do conhecimento do curso em que vai atuar e ofertá-lo em material específico.
            O segundo ponto definido por Trenk é que o professor pode tornar-se um tutor. “Nessa função, organiza a classe virtual, estipulando os prazos, os objetivos do curso, dividindo grupos e acompanhando o aprendizado dos estudantes” (TRENK, 2014, p. 71). Desse modo, o docente tutor exerce um papel administrativo e organizacional (TRENK, 2014; MILL, 2012b). Conclui-se que a função do docente virtual é mais a função de tutor do que de autor.
         Mill (2012b) denomina a docência virtual de polidocência, por estar fecundada de novos saberes ou competências do docente, sendo: domínio de tecnologias digitais; capacidade de trabalhar em equipe; gestão do tempo/espaço de trabalho; reconstrução dos métodos de ensino/aprendizagem; compreensão dos novos modelos de “sala de aula” e de “aula”.
           Para desenvolver suas atividades, o docente EaD precisa obter formação adequada. No entanto, as dificuldades apresentam-se já no início do trabalho. Segundo Mill (2012b), a formação inicial é insuficiente, e o docente precisa contar com a experiência pessoal: “o perfil deste professor é o resultado de suas experiências adquiridas ao longo de sua trajetória, nas relações do sujeito com o mundo, na reformulação das suas percepções e vivências” (MILL, 2012b, p. 12), destaca. Só após ingressar na educação a distância, a maioria dos docentes recebe alguma capacitação. De tal modo, a formação docente em EaD deve ser contínua e produzir uma reflexão crítica sobre a própria prática.
          Em sua formação, o docente EaD reconhece-se como protagonista de sua trajetória educacional, transformando-se e contribuindo para a transformação de outros. Ponto fundamental dessa formação é o contato com o estudante. Esse contato, entretanto, nem sempre será de maneira física, dando-se mais via tecnologias da informação e comunicação (TICs), o que gera certo distanciamento. O docente EaD virtual precisa desenvolver habilidades específicas destinadas a amenizar as consequências negativas desse “contato” virtual. Deve atentar-se à estruturação e aplicação do curso e da disciplina nos quais atua a fim de interagir melhor no processo ensino/aprendizagem.
           Conforme Mill, “as redes interativas da EaD ou as relações estabelecidas entre o docente virtual e o educando são intensa e tecnologicamente mediadas, assim como também normalmente o é a relação entre o estudante e o saber” (MILL, 2012b, p. 42). Isso dá-se porque a EaD, na era da cibercultura, está organizada através de espaços virtuais (ciberespaços) e por meio de dispositivos de comunicação bidirecionais, ou multidirecionais, e unidirecionais. Para Mill (2012b), a EaD em sua configuração virtual tem sido preferida a outras formas de organização, especialmente pela sua dinâmica e estruturação didática.
             Devido à novidade que ainda é a EaD e aos muitos fatores que a envolvem, tal prática docente enfrenta inúmeras dificuldades. Estudos realizados, como o de Oliveira (2009), retratam uma realidade desafiadora, com fatores negativos, como a carga horária exorbitante, relações difíceis com a família, falta de suporte financeiro, uso de material próprio, diversificação dos tempos e espaços de trabalho, falta de infraestrutura, além de arcar com todas as despesas oriundas das doenças geradas pela profissão entre outros.
              O próprio termo docente em EaD apresenta dificuldades, impedindo uma compreensão mais clara e definida. Muitos confundem os docentes em EaD, acreditando que todos são tutores. Para Mill (2012b), a figura do tutor é uma figura auxiliar do docente que propõe ou produz a disciplina surgindo como desdobramento das novas modalidades de EaD. No entanto, segundo Mill, embora nem todos os docentes sejam tutores, é preciso entender que o tutor também é docente em EaD. Para o autor,
em relação à sua terminologia, a tutoria apresenta a primeira dificuldade. A concepção de tutor[4] recebe como sinônimos termos do tipo: educador online, mentor, orientador virtual, monitor pedagógico, e-formadores, formadores virtuais, etc.. Com a denominação de tutoria, tem ainda outras variações: tutor presencial, tutor virtual, tutor eletrônico, tutor a distância etc.. Entretanto, apesar destas variações nos nomes, todos são compreendidos no que geralmente conhecemos como tutores para EaD (MILL, 2012b, p. 38).
               Pode-se, de alguma forma, estabelecer uma definição básica e compreensível: existem, em EaD, docente tutor, docente conteúdista ou autor (que elabora material) e docente formador, que oferta a disciplina (podendo ainda ser o mesmo que elabora o material).
            Outro fator desafiante em EaD é o teletrabalho. No teletrabalho, a maioria das instituições não possui contrato que respalde os direitos do docente e de outros trabalhadores,. Isso decorre da falta de uma legislação específica na maioria dos países detentores de programas educativos em EaD, entre eles o Brasil.
            Outra dificuldade encontrada pelo docente, já referida neste trabalho, é a falta de formação inicial para ingresso na educação EaD, pois não existem cursos pré-estabelecidos de capacitação na área para os docentes que pretendem atuar em EaD.
            Afora todos esses desafios, entre outros aqui não relatados, estudos, como o de Oliveira (2009) e Mill (2012b), apontam para uma ampla satisfação por parte do docente EaD em exercer suas funções, aquilo que Oliveira (2009) chama “passividade consentida”. Para a autora, essa passividade é possível, sobretudo, pela atuação do teletrabalho em intensificar as ações do docente de maneira a não deixar que este perceba o controle exercido sobre suas funções. É comum o docente afirmar que não se sente pressionado em sua atuação e que não há muita interferência em suas atividades, apesar de que, na EaD,
o software para atendimento online tem ferramentas que indicam quantas horas aquele tutor específico ficou presente no sistema, há quantos dias, há quantas horas, etc., ele está no Ambiente de Aprendizagem do curso e todas as suas participações em chats, fóruns e salas, desde seu primeiro acesso (OLIVEIRA, 2009, p. 74).
               Pode-se concluir que a cibercultura e o ciberespaço têm interferido sobremaneira na prática do docente em EaD. Existe, portanto, uma relação direta entre o docente EaD e a cibercultura, da qual aquele não pode prescindir sem que afete profundamente sua prática docente. Essa relação tem consequências positivas e negativas.
           Positivamente, amplia as possibilidades de ação do docente na EaD através dos muitos espaços construídos nas mídias por meio das tecnologias de informação e comunicação (TICs), dos tempos sincrônico e assincrônico, dos dispositivos de comunicação multidirecional, e unidirecional... Negativamente, impõe limites aos quais o docente vê-se submetido sem opção de escapar, a não ser abandonando sua função. Tais limites podem ser exemplificados pelo software para atendimento online, que age como um programa espião, cronometrando as vezes, a frequência e o tempo de acesso do docente à plataforma de educação virtual, limitando, assim, sua liberdade de atuação.
              Não será mais possível uma EaD sem ligação e dependência à cibercultura e ao ciberespaço. Porque a cibercultura engloba toda uma produção cultural, incluindo técnicas materiais e intelectuais ligadas às TICs e à produção científica referente a dispositivos midiáticos. E o ciberespaço é resultante dessa produção cultural, compondo-se como o novo meio de comunicação resultante da interconexão mundial dos computadores (LÉVY, 1999), no qual são configurados todos os programas para desenvolvimento da EaD online e da docência virtual.
Considerações finais
               A EaD nos tempos da cibercultura deve ser vista com um olhar positivo. Seus benefícios para a educação moderna são maiores do que seus possíveis malefícios.
Se a EaD nasceu de um contexto no qual a necessidade de mão de obra instruída imperava, seu avanço para um novo contexto exemplifica sua importância: veio para ficar e sua expansão é incontestável, sobretudo através dos suportes tecnológicos e digitais.
         A EaD na era da cibercultura configura-se como fruto direto desta, nascida de uma cumplicidade entre o processo humano de educar, desenvolver dispositivos tecnológicos de informação e comunicação e aplicá-los à educação.
Neste trabalho constatou-se uma relação direta entre a prática docente em EaD e a cibercultura, da qual a EaD não pode se desfazer. Os saberes docentes em EaD relacionam-se intimamente com o uso de tecnologias na educação. Isso implica uma necessidade do docente repensar suas práticas educativas, seus métodos e reinventar suas ações como docente EaD. A forma mais eficaz de realizar essa demanda é atuando como sujeito do processo ensino/aprendizagem ao qual vincula-se, buscando sua realização pessoal como profissional da educação e contribuindo para a realização de outras pessoas.
As dificuldade enfrentadas pelo docente  EaD são resultantes de questões que ainda precisam ser discutidas e respondidas, como a carga horária,  a normatização do teletrabalho, a remuneração pecuniária e a própria definição dos espaços de trabalho, do tempo e da figura do docente.
As conclusões resultantes da realização deste trabalho possibilitaram uma visão mais profunda da docência em EaD, dos seus desafios, da sua importância, da influência da cibercultura na ação do docente EaD e da amplitude da EaD nos tempos da cibercultura. Os autores esperam, com esse trabalho, poder ter contribuído com a discussão em torno da docência na EaD na era da cibercultura e sua importância para a educação.
Referências

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MILL, D.; BIANCHI, P. C. F. Programa de Formação Continuada da Unimontes. Módulo V. Gestão da Educação a Distância. Montes Claros: Unimontes, 2012.
MILL, D.; SILVA, A. R. da; TORRES, M. A. G. Programa de Formação Continuada da Unimontes. Módulo III. Docência na Educação a Distância. Montes Claros: Unimontes, 2012.
OLIVEIRA, R. M. da S. R. Avaliação online: fundamentos históricos, filosóficos e políticos da EaD. Disponível em: <http://ava.ifnmg.edu.br/mod/quiz/review.php?/attempt=31775>. Acesso em 06 fev. 2015.
OLIVEIRA, R. M. da S. R. Programa de Formação Continuada da Unimontes. Parte II: Fundamentos históricos, filosóficos e políticos da EaD. Montes Claros: Unimontes, 2012.
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TRENK, W. A. A prática docente em EAD no contexto da cibercultura. IN Convenit Internacional 14 jan-abr 2014 Cemoroc-Feusp/Ppgcr-Umesp/IJI - Univ. do Porto.
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Abstract: The DE is not a unique education model of contemporaneity, it began in the second half of the nineteenth century and has spread throughout modern history through five generations. In this process, the teacher figure in distance education has undergone several settings to the most common formulation today: the virtual teaching, which develops its practices directly in cyberspace. This work aims to analyze and discuss the relationship between the practice of teaching in distance education and cyberculture and the influence of this professional life that, based on the question: what is the impact of cyber culture in the teaching practice in distance education in the contemporary context? Justified by the discovery of a deepening discourse around the teaching in distance education and its close relationship with the cyberculture. The completion of the work was given by choosing, reading and existing literature analysis in the area, and a literature review, becoming a literature search.
Keywords: distance learning, distance education Lecturer, Cyberculture, Cyberspace, New Information Technologies.





[1] Habilitado em História pela UNIMONTES. Especialista em História Cultural, Políticas Públicas Sociais pela SOEBRAS/Promove. Tutor presencial do Curso Técnico em Multimeios Didáticos do IFNMG no Polo Avançado de Coração de Jesus. Diretor de Centro Municipal de Educação Infantil de Coração de Jesus.
[2] Habilitada em Pedagogia pela UNIMONTES. Especialista em Educação Básica na Rede Pública na E.E. Levi Durães Peres em Montes Claros.
[3] Professora do Centro de Referência em Educação a Distância – CEAD, do IFNMG.
[4] Grifos do autor.

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