sexta-feira, 17 de abril de 2020

Escrever em tempos atuais


Ser escritor em tempos de multimídia

Gilberto Medeiros

 
Imagem: Entre Coisas. Fotografia do Autor.

O escritor é uma figura que atravessou os séculos, mesmo o milênios, na história da humanidade. Por si só já é a personificação do trabalho que realiza. No entanto, há sempre uma indagação quando se trata do trabalho do escritor: o ato de escrever seria por si só uma profissão? Podemos definir, claramente, o trabalho do médico, do professor, do advogado, do pedreiro entre muitos outros como uma profissão sem medo de errar. Mas e o escritor? Exerce uma profissão ao escrever? Essa dúvida é ainda mais latente quando se percebe que a maioria dos escritores exerce essa função não como ato puramente profissional, mas como uma segunda, terceira e até quarta opção.  É visível que a maioria dos escritores tem outra profissão. Assim, são professores escritores, advogados escritores, médicos escritores, pedreiros escritores etc. Não conheço, e não sei de alguém que conheça, um escritor que viva apenas de sua escrita. No entanto, podemos definir o ato de escrever como uma profissão sim, mesmo que seja cumulada com outras atividades. É uma profissão reconhecida no Brasil como tal, embora não regulamentada, o que significa que não está coberta pelos mesmos direitos que as demais profissões. Por outro lado, temos também sindicatos de escritores e outras instituições representativas da classe, embora sejam mais iniciativas locais.
O trabalho do escritor sempre foi um desafio em qualquer lugar e em qualquer tempo. No mundo contemporâneo, especialmente neste momento em que vivemos uma explosão das multimídias, não é muito diferente. Sei, por experiência própria, que integrar a classe de escritores significa está apto para enfrentar muitos desafios e correr o risco de ter que desistir no meio da estrada. Pois não se trata só de ser apenas um escritor, é preciso fazer com que o que você escreva seja lido. Ou seja, um escritor precisa, necessariamente, ter leitores para que sua escrita esteja viva e presente. Não se trata apenas de vender o que se escreve, mas de fazer chegar, o mais longe possível e a mais pessoas possíveis.
A vida de um escritor, no Brasil, sobretudo, esta cercada de dificuldades. De 100 autores, dois ou três, com muita sorte, consegue fazer seu trabalho ganhar destaque. A batalha para encontrar uma editora que queira publicar seu trabalho é tão árdua quanto produzi-lo, e para muitos, é ainda mais árdua. Normalmente um autor brasileiro, com publicações no Brasil, ganha apenas 10% do valor de capa de um livro, o restante está dividido entre custos editoriais, distribuição e com livraria. Temos ainda a tiragem muito limitada. Um escritor, ou uma escritora, com uma média de leitores e um seguimento razoável, faz uma tiragem de até 3.000 livros no Brasil, e demorará até dois anos para vendê-los. Se conseguir vender todos os seus livros nesse tempo, ganhará, em média, R$500,00 por mês. Uma renda da qual não dá para depender. Assim, a maioria dos escritores acaba escrevendo para realizar um sonho, outros acabam conseguindo entrar para o mercado editorial e ganhar mais dinheiro.
As dificuldades para atrair a atenção de uma grande editora é hercúlea. Diante disso, surgem novas formas de escrever e publicar o que produzimos. É preciso destacar que as editoras também sofrem com isso, pois a burocracia e o desejo de acertar sempre, o que as faz publicar apenas autores que vendem, têm feito muitas editoras poderosas caírem e a maioria delas fundirem-se em grupos editoriais maiores. Do lado dos escritores, surge a geração de escritores multimidiáticos, isto é, escrevem em perfis e páginas de mídia digitais, tais como o Facebook e o Instagram. Os poetas são os principais desta geração. Isso se deve a um fator muito perceptível: a poesia é bela, mas nem tão vendável. Dessa feita, nós, os poetas, abrimos espaços à força nas mídias digitais para fazer nosso trabalho chegar mais adiante. Criamos saraus online, blogs, perfis, páginas, fazemos lives, publicamos e-books e trabalhamos no nosso próprio sistema de marketing. Realizamos cursos à distância para saber como escrever, publicar e divulgar nossos trabalhos e contamos com amigos para ajudar nessa divulgação e venda. Junto com a geração de escritores de mídias, surge também a geração de leitores multimidiáticos. O conforto de se ter uma biblioteca na palma da mão, sendo acessada pela tela de um celular, a facilidade de se acessar essa biblioteca de qualquer lugar, e o preço dos livros, levaram milhares de leitores a redirecionarem suas intenções para a leitura digital. Outro seguimento que viu isso e se apossou desta nova forma de se editar e se ler, foi o seguimento dos editores. Assim, sugiram plataformas especializadas em publicar, vender e distribuir livros e Apps especializados em vendê-los e distribuí-los.

Porém, ainda somos escritores de obras impressas. Nossa mentalidade é milenar. Um arquétipo bem estruturado e, por isso, ainda não conseguimos abrir mão, totalmente, de um bom livro impresso. Somos frequentadores de bibliotecas, temos estantes de livros em casa e ensinamos aos nossos filhos como ler e carregar um livro debaixo do braço.
No entanto, estamos nos tornando mais especializados em escrever e editar nossos próprios livros, mesmo que sejam impressos.
Imagem: Fotografia da Tarde. Foto do autor.
Fazemos praticamente todo o trabalho. Possuímos aplicativos de diagramação, estruturação das capas, montamos a fichas catalográficas etc. Além disso, nos tornamos mais livres no uso de imagens nas capas de nossos trabalhos, desde que sejamos os próprios autores ou que os direitos sejam negociados adequadamente. Acabamos fazendo mais publicações de Edição do Autor do que de outra maneira. De qualquer forma, estamos na geração que usa a mídia a nosso favor para escrever, e o que buscamos é que este espaço nos seja maior e nos proporcione a ampliação de nossos trabalhos para conquistarmos nossas metas: escrever, publicar e sermos lidos.

Espero você para a leitura de meu próximo texto: Escritores de Coração de Jesus e suas batalhas.



terça-feira, 7 de abril de 2020

Estranha Poesia


Olá pessoal!
Resolvi voltar a publicar em meu Blog, coisa que não faço há muito tempo.
Publicarei, para recomeçar, a Apresentação de meu livro Estranha Poesia, escrita por Bira Macedo.


Apresentação

Uma apresentação de um simples semianalfabeto, para Gilberto Medeiros.

                                                   Cantar é próprio de quem ama.
                                                     (Sto. Agostinho)


Sim, um irmão de versos, e graças a Deus vale a pena viver e conhecer este trabalho. Sim, não obedecer a nenhuma sequência de fatos, nem à ordem cronológica dos mesmos. Deixarei a esmo vagar a memória, e falar abertamente o coração.
Estou viajando nas páginas; este livro é um cântico. O autor escreveu com todo o sentir de sua alma, profundamente humana, em prosa impregnada de amor e de um encantamento que só os poetas vivem.
Amor que transpira de simplicidade das suas enternecedoras confidências, da humildade das dedicatórias, da sinceridade dos seus relatos poéticos contemplativos, da sua visão cristã do mundo, da isenção de quaisquer propósitos de interesses pessoais e do próprio objetivo do livro: simbolizar a gratidão... o amor.

Na planície imensa, triste, em que campeiam o materialismo e o egoísmo dos nossos dias, surge raramente um oásis espiritual, um raio de luz nas trevas das nossas escuras apreensões.
É um oásis espiritual saber expressar em versos, “indiscutivelmente”.
Após a sua leitura, nos sentimos tal como no final de uma piedosa missa em que o oficiante nos deixa na alma a alegria de viver, a confiança no futuro, a sensação de que vale a pena praticar o bem e por ele lutar e viver, e a certeza de que, felizmente, há ainda quem acredita vivamente nos desígnios e na presença da Natureza e o canta na linguagem pura do coração, em versos poéticos...
Tudo nos foi transmitido num estilo despretensioso, suave, agradável, tocantemente simples, como simples é a alma grande e boa de Gilberto Medeiros.
Este é o seu primeiro livro de poemas. Gilberto Medeiros nos traz um rico conjunto de obras de grande suavidade e doçura, marcadas por um sentimento do belo que passeia entre a natureza, as relações do eu com o mundo, com o universo, que circula entre as dores, paixões, desejos e frustações de todos nós, habitantes efêmeros desse nosso planeta.
Peço desculpas ao autor, tento mostrar a beleza pura e simples dos seus versos, mas não sei, não sei se serei capaz de deixar aqui palavras que toquem, como seus poemas, os corações dos seus leitores e admiradores.
Meu caro companheiro, amigo, colega nos versos sentimentais e de uma nostalgia que flora em nosso eu, desculpe, mas quero uma desculpa com amizade: é merecedor de um comentarista estilo Machadão, não um simples plebeu como eu.
Agradeço pela confiança, pela sua coragem de deixar em mãos leigas um monumento como este, onde a voz interna do “ser”, mostra a realidade em versos. Nada mais poderei acrescentar. Vejam o prefácio do autor, diz tudo, leiam o poema “Sagrado Profano” onde o autor se mostra...
Como foi difícil para mim conseguir um relato assim, segundo os preceitos do ritual que ilustra e rege essas páginas. Quase o consegui, sei. O que escrevi, soltei lá de dentro do meu eu as lembranças e aumentei, dentro de minha alma, a beleza dos versos de nosso querido Gilberto Medeiros.
Coração de Jesus, dezembro de 2019.

Ubirajara Alves Macedo*
*Contador de formação. Jornalista por experiência. Poeta, escritor e historiador da cultura local, com vários livros publicados. Artesão. Presidente da Fundação Cultural José Alves de Macedo. Presidente da Academia de Artes, Letras e Ciências de Coração de Jesus. Secretário de Cultura de Coração de Jesus.


A cor da minha pele no tom da sua voz: vozes plurais das escritoras negras de Minas

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