quinta-feira, 23 de julho de 2020

Ubirajara Alves Macedo: o autor através do tempo


Ubirajara Alves Macedo: o autor através do tempo


Gilberto Medeiros

Biografia de Bira Macedo. Imagem: Do Autor.
UMA PEDRA NA PEDRA
Macedoi
Atirei uma pedra na pedra
A pedra quebrou a pedra
Como eu, que quebrei a vida
Que era dura como uma pedra.

Enigma de toda a luta de Ubirajara Alves Macedo, este poema do autor traduz sua batalha como escritor e como artista de modo geral. Ubirajara Alves Macedo, popularmente conhecido como Bira Macedo, adota hoje o pseudônimo de Bira Macedoi. Macedoi é a forma latina do seu nome, atribuído, em sua homenagem, ao Titanossauro Tapuiassaurus Macedoi, maior dinossauro da espécie já encontrado na América Latina, neste caso, no município de Coração de Jesus.
Bira Macedo nasceu em Coração de Jesus, aos 07 dias do mês de Novembro, do ano de 1946, filho de José Alves de Macedo e Lucinda dos Santos. Casado com Irani Santos Macedo é pai de Uiraquitã Alves Macedo e avô de Jonathan Santos Macedo, Natan Santos Macedo e a bebê mui bela Ester Costa Macedo. Desde cedo recebeu incentivo do pai pela vida aventureira de pesquisador e explorador do patrimônio cultural de Coração de Jesus. Seu pai fora um arqueólogo, espeleólogo e paleontólogo autodidata a quem Coração de Jesus deve a maioria das grandes descobertas nessas áreas. Bira Macedo seguiu o caminho do pai, a quem admira imensamente e dedica todo sua vida e carreira.
Formado em contabilidade, funcionário público aposentado, da altura de seus mais de 70 anos, Bira nunca desistiu de seu trabalho. Embora diga constantemente que já está muito cansado, não há um desafio que não enfrente quando se trata de descobertas e produção cultural local. Basta lhe dizer que foi encontrado um fóssil, uma ponta de flecha, uma fenda suspeita em uma rocha que para lá ele vai, cheio de ânimo e coragem.
Esse explorador incauto é também jornalista, fotógrafo, artista/artesão e escritor. Em sua casa há uma verdadeira galeria, com quadros e outras obras de sua autoria admiráveis. Bira desenvolveu habilidade impar para lidar com a matéria prima do serrado, ofertada em abundância ao artista com olhos finos e gosto aprimorado pela arte com base natural. É ainda um boticário talentoso. Em sua casa podem ser encontrados perfumes naturais maravilhosos e deliciosos licores de frutas. Sua esposa está lhe deixando de castigo há um bom tempo por ter lhe furado a panela de pressão para transformar em um destilador.
Este artigo, no entanto, é dedicado às obras literárias de Bira Macedo, as quais irei apresentar e comentar brevemente. Tenho que lembrar as dificuldades de do escritor em produzir sua obra, publicá-la e fazê-la ser vendida[1]. Esta batalha Bira vem enfrentando desde quando começou a trilhar os caminhos da escrita. Hoje, diz que não quer mais publicar, pois não obteve o reconhecimento merecido. Infelizmente não obteve mesmo, mas aposto como vai publicar sua próxima obra, sendo o guerreiro que é.
Bira Macedo é autor de vários livros e possui uma biografia não autorizada. São eles: Retrospectiva Histórica e Geográfica, Sinopse, CJ 100 Anos, Vocabulário Regional de Coração de Jesus, Migalhas Folclóricas, Geografia dos Mitos: lendas, fábulas e contos de Coração de Jesus, Minhas Rimas, Pitinha Ontem, São João da Lagoa Hoje, e Um Vulto na Cultura (biografia).
1 – Retrospectiva Histórica e Geográfica
Nesta obra o autor faz um apanhado, citando e transcrevendo textos documentais, da história de Coração de Jesus, desde o surgimento do povoado no período da colonização da região, sua transformação em Vila e depois em Município. Trata-se de uma obra que faz parte da memória local como a única obra do gênero, escrita por um escritor corjesuense. Infelizmente o livro, de capa amarela, com uma foto da Lagoa Feia na capa, já entrou praticamente em extinção e hoje é difícil encontrar um exemplar seu. Quem tem um, não vai dar a ninguém, inclusive eu.
2 – Sinopse
A obra Sinopse trata também da história de Coração de Jesus. Embora aborde outros aspectos que não aparecem em Retrospectiva História e Geográfica, trata também da história mais recente do município. É uma obra em formato diferente: tamanho grande, aspecto de revista, e com muitas fotografias.
3 - CJ 100 Anos
Escrita para comemorar os 100 anos de emancipação política de Coração de Jesus, a obra CJ 100 Anos traça uma linha história, política e administrativa do município até a comemoração de seu centenário. Esta é, possivelmente, a obra em que Bira Macedo mais abordou os aspectos políticos de Coração de Jesus, embora de modo muito sintético em menos crítico.
Estas três obras do autor esboçam uma história de Coração de Jesus através da qual podemos observar, e conhecer, quase todos os aspectos da história do município. Atualmente o autor está terminando um novo livro que absorve tudo que foi escrito nesses três e trás muitos novos aspectos ainda não escritos da história local. De tal modo que, quem não tem as três obras anteriores, poderá ter a nova obra, sem data de publicação, com uma escrita mais ampla e completa.
4 - Vocabulário Regional de Coração de Jesus
Livro de Bira Macedo. Imagem: Do Autor.
Este é um dos livros de Bira Macedo de que mais gosto. Trata-se de um glossário com centenas de termos da língua falada localmente, cujas origens recebem influências diversas. A obra é resultado da vivência e da visão acurada do autor pelo modo de vida e de fala das nossas gentes. Nesse livro são encontrados termos interessantes como “acuma” (não entender o que se disse), uma expressão interrogativa utilizada por pessoas mais simples quando não entendem o que outra pessoa disse; ou “é o pau que rola” (ter muito, em abundância), muito comum nas conversas informais ainda hoje, entre muitas outras expressões.
5 - Migalhas Folclóricas
Nesta obra o autor transcreve e escreve narrativas e vivências folclóricas de nossa região, como as diferentes festas, os aspectos mais importantes da culinária local, e práticas de magias locais (benzeções e outras), ligadas à produção cultural secular das pessoas e personagens locais e às suas práticas espirituais.
6 - Geografia dos Mitos: lendas, fábulas e contos de Coração de Jesus
Livro de Bira Macedo. Imagem: Do Autor.
Este é o último livro escrito por Bira Macedo e publicado em 2020. É uma obra que sintetiza lendas, fábulas e contos regionais que fazem parte da memória viva do povo de Coração de Jesus, como a Lenda do Chora Menino, da Criação da Cidade e do Fervedouro. Mas trás também lendas que fazem parte do folclore brasileiro, como histórias da Mula sem Cabeça e de Lobisomem. Outros textos são histórias vividas pelo próprio autor e transcritas em formas de contos. Em outras partes da obra, o autor arranja textos da história da cidade, como de pretas escravas e de personalidades típicas da localidade. Este é um dos poucos livros do autor ainda disponíveis para venda.
7 - Minhas Rimas
Bira Macedo não escreve apenas a história regional, suas mentalidades, seu folclore e suas formas de vida. É também um exímio poeta. Com centenas de poemas escritos, publicou apenas um livro com 100 deles. A poesia de Bira Macedo é carregada de sua experiência de vida, como o poema transcrito no início deste artigo, e dedicada ao amor. Muitos dos seus poemas falam da vida amorosa entre pessoas, e vários são dedicados à sua esposa. Esta obra também está disponível para venda.
8 - Um Vulto na Cultura[2] (biografia)
A obra Um Vulto na Cultura é uma biografia não autoriza de Bira Macedo escrita pela Professora Varníbia Aparecida Antônia Marchi, da secretaria de Educação do Estado de São Paulo. Trata-se de uma pesquisa feita pela autora nas redes sociais do autor e com amigos do mesmo. A obra foi elabora como homenagem ao autor, sem seu conhecimento, e a ele enviada como presente para ser lançada e vendida. É um livro com recortes de publicações de Bira e com comentários da autora, sem muita categoria de pesquisa, pois trata-se de um ensaio sem maiores intenções que não aquela de homenageá-lo. Este livro também está disponível para venda com o autor ou na Fundação Cultural José Alves de Macedo.
9 - Pitinha Ontem, São João da Lagoa Hoje
Este livro foi escrito sob encomenda de Ronaldo Mota Dias, quando era prefeito de São João da Lagoa. Nele o autor narra a história do Distrito de São João da Lagoa, popularmente conhecido como Pitinha, e sua transformação e emancipação política até se tornar município.
∞∞∞
As obras aqui apresentadas não seguem a ordem de sua publicação. Na verdade, as aproximei pelos seus temas.
Atualmente, Bira Macedo possui pelo menos mais três obras quase prontas para publicação. Em uma delas reescreve toda a história política e social de Coração de Jesus até os dias de hoje. Em outra, conta suas descobertas na área de paleontologia, espeleologia e arqueologia. Na outra irá publicar outra quantidade de suas poesias. Obras pelas quais, confesso, espero ansioso.



[1] - Quem quiser saber mais sobre este assunto, leia meus artigos “Ser escritor em tempos de multimídia” e “Escritores de Coração de Jesus e suas batalhas”, publicados neste blogger.
[2] - Veja foto da capa do livro no topo deste artigo.

quarta-feira, 6 de maio de 2020

Escritores de Coração de Jesus


Escritores de Coração de Jesus e suas batalhas

Gilberto Medeiros

Figura 1 Capas livros escritores de Coração de Jesus. Foto do autor.
Neste artigo trago uma visão de perto da vida e produção de alguns escritores de Coração de Jesus e suas batalhas na produção de seus trabalhos e no exercício de seu ofício. Conheço esses escritores, e vejo suas batalhas tão acirradas que podem levar à exaustão.
Os escritores que apresentarei aqui já publicaram livros e todos através de produções próprias. Infelizmente, nenhum ainda obteve o devido respeito e reconhecimento pelo seu trabalho. No artigo trago informações fornecidas pelos próprios escritores, que obtive através de um questionário que enviei a eles por meio do WhatsApp, Messenger ou e-mail, sobre sua vida de escritor, obras, desafios entre outros temas. Enviei o questionário a vários escritores e escritoras, mas apenas quatro deles me responderam. Então, o artigo será dedicado àqueles e àquela que me responderam. Caso obtenha respostas de outros escritores ou escritoras, posteriormente, escreverei outro artigo sobre o trabalho deles e delas. Transformei parte das entrevistas em texto narrativo, porém, respeitando falas e ideias dos escritores.
Neste artigo, no entanto, não irei deter-me a examinar as formas e os temas da escrita desses autores, por dois motivos: primeiro: para que este artigo não fique muito longo; segundo: porque pretendo abordar a produção literária de cada um deles em artigos específicos posteriormente. De tal modo, vou deter-me apenas em apresentar a produção e os desafios desses escritores em seu Ofício de Escritor. A ordem em que os escritores aparecem no artigo é a ordem em que foram respondendo ao meu questionário. E eles são: Elismar dos Santos Alves, Raphael Souza, Ubirajara Alves Macedo e Maria Clara Moreira Leite e Souza.
O escritor Elismar dos Santos Alves é natural de Coração de Jesus, é professor na Rede Estadual de Educação e hoje vive mais em São João da Lagoa, a cerca de 22km de sua cidade natal. É membro efetivo da ACLACJ – Academia de Ciências, Letras e Artes de Coração de Jesus. Com vários livros e textos publicados, é um dos escritores com maior produção da nossa região. Como o próprio escritor especifica, lida com uma variedade dos tipos de produção literária, construindo seu ofício na poesia, crônicas, conto, romance e música. A composição musical de Elismar Santos é uma novidade entre os escritores locais, visto que é uma produção muito difícil, o que faz com que nem todos tenham habilidades para ela, apesar de serem bons em outros tipos textuais. Entre suas produções musicais, destaca-se o Hino Oficial de São João da Lagoa.
Elismar Santos, como é conhecido, tem um histórico importante não só de publicações, mas também na escrita. Começou ainda em sua infância a produção de seus primeiros textos, como podemos conferir em sua fala em reposta a perguntas do autor deste artigo:
“Publiquei meu primeiro livro (Mutação) em 2013; mas a lembrança mais remota é de um livreto escrito em sala de aula, a pedido da professora Sérgia (na Escola Coração de Jesus), quando eu estava na 3° Série, com 9 anos. E, depois, escrevi dois poemas elogiados pela professora Maroni, em 1998, quando eu estava no 1° Ano Médio”.
Percebe-se que o escritor teve seus dons para a escrita despertados ainda em sua infância, e que escreveu seu primeiro trabalho ainda na puberdade. As obras do escritor publicadas até o momento, constam de uma lista elabora por ele a meu pedido, que segue abaixo:
“Publiquei Mutação (Poesia); Sanharó (Romance); A Pá Lavra (Poesia); O Poeta e suas Lavras (Poesia); Minhas Crônicas (Crônicas) e A Saga de Juca Pessoa (Romance);
Figura 2 Livro Sanharó de Elismar Santos. 
Foto do autor.
além de um projeto (in-sacando Poesia - Alimentando a Alma) e participação em duas coletâneas”.
Elismar Santos, no entanto, publica seus textos também em sua página pessoal no Facebook e em seu Blog pessoal, o que faz sua produção literária mais ampla do que o que está aqui demonstrado.
A produção do autor, como de todos os escritores de Coração de Jesus, é independente, o que significa que o próprio escritor produz toda a sua obra, da composição ao lançamento, isto quando há, de fato, um lançamento. Segundo Elismar Santos, uma de suas grandes dificuldades é a “falta de apoio, principalmente financeiro”, deixando claro que não só falta apoio financeiro, como investimento de qualquer setor em seu trabalho, mas também apoio cultural e de leitores.
O escritor, no entanto, afirmar que se sente realizado em eu Ofício de Escritor. Em suas palavras: “por me satisfazer com a minha obra somente; pois o reconhecimento popular é pouco, até mesmo porque a maioria não gosta de ler e, sobretudo, de comprar livros (além de Santo de casa não fazer milagre)”, conclui.
Questionado sobre o que tipo de respaldo ele gostaria de ter para que sua obra fosse, definitivamente, reconhecida, ele responde: “o principal talvez seria o apoio financeiro, principalmente por parte das autoridades políticas, que poderiam criar, por exemplo, fundos de financiamento aos artistas”. E aqui o escritor fala não apenas de apoio aos escritores, mas do apoio a todos os artistas de Coração de Jesus.
As obras de Elismar Santos podem ser encontradas, para compra, em plataformas digitais como a Amazon e o Clube de Autores.
O escritor Raphael Souza, mais conhecido como Pastor Raphael, é natura da Cidade de Nilópolis, no Rio de Janeiro. No entanto, mora com a Família em Coração de Jesus há 08 anos, e costuma afirmar que adotou a cidade como sua, e por ela tem insuperável apreço. É mestre em Jiu-Jítsu e desenvolve um projeto voluntário com uma Escola de Jiu-Jítsu em Coração de Jesus. Professor de Educação Física, escritor e religioso profundo, desenvolve sua escrita em “diversos assuntos: política, poesia, romance, conto infantil”, como afirma
Figura 3 Livro Raphael Souza. Foto do autor.
em resposta ao questionário deste autor.
Raphael Souza começou a escrever antes dos 10 anos de idade, deixando transparecer sua vocação pelo Ofício de Escritor ainda na infância. O escritor não nega a influência de seu Pai em sua produção, pelo contrário, a afirma, conforme me informou, pessoalmente, e pela resposta ao questionário para este artigo:
GM: Com que idade você começou a escrever?
RS: Antes dos dez anos vendo meu pai Raimundi Souza, falecido em 05 de abril de 2020: (ele) era escritor, músico, poeta, veterinário e professor de esperanto, com vários prêmios, inclusive na China.
O escritor possui alguns livros publicados e outros em fase de publicação. Na verdade são “três publicados e quatro em fase de publicação”, afirma. Os títulos das obras de Raphael Sousa, tanto as publicadas quanto as em fase de publicação, me foram confirmadas pelo autor na seguinte lista:
“Publicados: Aliança com as Rosas (Poesia), O Mestre, filosofia e pedagogia do Jiu-Jítsu, vol. I., 1° edição (arte marcial) e Excelência em capelania (religioso).
(...) fase de publicação:
O Mestre, filosofia e pedagogia do Jiu-Jítsu, 2° edição, Pinguelinho: segredo de família (conto infantil), Todo político mente de vereador a presidente (política), Quem é o santo protestante (religioso)”.
Assim como Elismar Santos, a produção dos livros de Raphael Sousa é própria, “arte diagramação e etc., mas, foi publicado pela editora A Voz do Brasileiro”, com a exceção de que foi publicada por uma editora. Em termos práticos, para nós escritores, se a produção não foi feita toda pela editora, inclusive divulgação e lançamento, significa que ou escritor pagou pela produção completa, comprando o trabalho da editora e pagando à vista. Isso deixa livres os direitos autorais, o que faz com que o escritor possa republicar sua obra quantas vezes quiser e por qualquer meio que acreditar melhor. Porém, deixa todo o trabalho, inclusive de venda, por conta do escrito. Em se tratando de escritores locais, isso é uma tremenda dificuldade, pelos vários motivos que já elenquei aqui e que Raphael Sousa irá descrever mais à frente.
Na sua produção literária, Raphael Souza indica uma série de dificuldade, como: o “brasileiro não tem hábito de leitura, falta apoio financeiro cultural, outro problema é a logística, distribuição e o marketing, além de poucos incentivos nas bienais para novos autores”. Realidade, preciso concordar.
Mas indagado se se acha realizado neste ofício, o autor responde: “Sim. Amo escrever, pensar fora (da) caixinha, produzir ideias e ideais”. Porém, afirma que gostaria de ter apoio para que seu trabalho pudesse ganhar o destaque merecido. Indica como dois principais apoios: “além de apoio financeiro para ter tranquilidade para escrever é o apoio logístico de distribuição e marketing”.
Os livros de Raphael Souza podem ser encontrados com o próprio autor, e algum deles na plataforma do AgBook.
O escritor Ubirajara Alves Macedo, nasceu em Coração de Jesus, e hoje está com 77 anos de idade. É o escritor vivo mais velho que temos. É filho do explorador José Alves de Macedo, pioneiro nas buscas paleontológicas, espeleológicas e arqueológicas de Coração de Jesus. Ubirajara, mais conhecido como Bira Macedo, e agora como Ubirajara Macedoi, acompanhou o seu Pai desde a tenra idade em suas muitas descobertas. É fundador da Fundação Cultural José Alves de Macedo, da qual é curador, Membro Fundador e Presidente da ACLACJ – Academia de Ciências, Letras e Artes de Coração de Jesus e atual Secretário de Cultura do Município. Teve seu sobrenome atribuído ao Titanossauro Tapuiassarus Macedoi, descoberto no Município de Coração, de cuja descoberta e exploração fossilífera participou. Também é Guardião da Casa de Cultura de Coração de Jesus, a qual abriga o Museu de Coração de Jesus e uma biblioteca.
Ubirajara Alves Macedo foi escritor precoce, começando suas produções aos 06 anos de idade. Já por essa época, “fizemos o primeiro Jornal, juntos, eu e Sanguinette”, explica, referindo-se ao amigo Geraldo Sanguinette. O escritor faz incursões em diversos gêneros literários. Modestamente, diz: “de tudo um pouco, incluindo agora um científico”. O texto científico a que se refere é seu novo livro, ainda a ser publicado, “Tapuiassaurus macedoi”, corrigido e prefaciado pelo advogado e paleontólogo, o Professor Leonardo Campos. O seu último livro, lançado em janeiro deste ano, foi Geografia dos Mitos: lenda, fábulas e contos de Coração de Jesus, cujo prefácio tive o prazer de escrever.
Bira Macedo é o escritor de Coração de Jesus, atualmente, com maior número de obras publicadas, e conta ainda com vários escritos a serem organizados para publicação. Bira Macedo já publicou “9 livros, e mais 03 no prelo”, cujos títulos, dos publicados, são:
Retrospectiva Histórica e Geográfica de Coração de Jesus; SINOPSE; Vocabulário Regional; CJ CEM ANOS; História da Câmara Municipal; Um Vulto na Cultura; Minhas Rimas; Migalhas Folclóricas; Pitinha Ontem, São João da Lagoa Hoje e Geografia dos Mitos.
A obra Um Vulto na Cultura, trata-se de uma biografia não autorizada do autor, escrita pela Professora Varníbia Aparecida Antônia Marchi, de São Paulo, e enviada ao autor como presente de reconhecimento pela sua contribuição à Cultura de Coração de Jesus.
Figura 4 Livro de Bira Macedo. Foto do autor.
Ubirajara Macedo, tal como Elismar Santos e Raphael Souza, trabalha a produção de seus livros por conta própria. O autor desabafa: “falando a verdade, pesquisei tudo a sós, tentei patrocínio, consegui o mínimo, mas venci e aí estão”.
Os desafios para o escritor não são poucos, e ele confidencia que “mesmo sendo Secretário de Cultura, hoje, precisaríamos de mais apoio em tudo das Administrações, no setor cultural”.
Bira Macedo, no entanto, diz-se realizado em seu Ofício de Escritor, “pois sendo um semianalfabeto, consigo fazer o que quero”. O termo semianalfabeto aparece constantemente nas conversas que tenho com o escritor, e acho graça nisso. Embora não seja detentor de título de nível superior, Bira Macedo é Contador de profissão, fotógrafo e jornalista por iniciativa própria. Já fundou vários jornais e periódicos em Coração de Jesus e foi correspondente em mais de um Jornal do Norte de Minas, além de realizar vários cursos de extensão e capacitação nas áreas de cultura e paleontologia. Além disso, se sai bem em outras áreas da arte: é artesão, escultor e, batam palmas, boticário. Produz vários perfumes com plantas, frutos e raízes do serrado, além de elaborados e deliciosos licores.
Mas a queixa de Bira Macedo é a mesma de outros escritores locais. Para ele, é necessário que haja “mais valorização pelos nossos conterrâneos e os políticos regionais”.
As obras de Bira Macedo podem ser compradas diretamente com o próprio autor, inclusive por encomenda através de seu perfil no Facebook, ou por e-mail, ou no Casarão da Fundação Cultural José Alves de Macedo, na Praça da Matriz, em Coração de Jesus.
A escritora Maria Clara Moreira Leite e Souza, única escritora a responder à pesquisa, nasceu na cidade de Montes Claros, mudando logo depois para Coração de Jesus. Sua família é de origem daqui e viveu em Coração de Jesus até os 14 anos de idade, quando retornou para Montes Claros para estudar. Porém, vem com frequência à nossa cidade, onde estão seus pais e seu irmão. Maria Clara publicou o livro de poesia “Na ordem da vida eu poetizo”, no ano de 2012. Convidada por mim para falar sobre sua vida como escritora, respondeu, animada, e prontamente, ao convite. O que se segue é praticamente toda a narrativa das respostas que ela me enviou.
Maria Clara é, também, um daqueles talentos que, como Elismar Santos, Raphael Souza e Ubirajara Macedo, nasceu na infância. A escritora afirma:
“Aos sete anos escrevi meu primeiro poema, foi escrito para a minha professora da 1ª série do fundamental I, por quem eu nutria muita admiração. Mas, quando criança, sempre fui de verbalizar poesias. Quando fui alfabetizada aprendi também a colocá-las no papel”.
A autora é também um talento que consegue migrar entre os vários tipos de produção literária, como poesia, “diário, crônicas, romance”. No entanto, não publicou, oficialmente, nenhum outro texto que não poesia.
Maria Clara produziu o seu livro de maneira independente, da mesma forma que os demais escritores de Coração de Jesus. Para ela, porém, incentivada pelos pais, o trabalho parece menos cansativo do que para os demais. Veja o que diz a autora sobre seu trabalho:
“Na realidade, falo que ‘caí de paraquedas’ no mundo da publicação literária. Pois, incentivada pelos meus pais, decidi participar do Psiu Poético e foi lá que me mostraram que, reunindo as poesias que escrevi desde os seis anos até os onze, eu poderia publicar um livro e lançá-lo na edição do Psiu que participei. Achei muito interessante na ocasião. Quando criança, sempre fui de tomar decisões desafiadoras para minha idade. Mas, escrever um livro foi muito tranquilo, pois ao longo da minha infância amava escrever e na época era um passatempo descrever e analisar meus sentimentos e visões de mundo por meio da poesia”.
Por outro lado, a escritora sente na pele os mesmos desafios que todos os escritores de nossa região. Questionada sobre esses fatores, ela responde:
“A desvalorização do escritor é relatada frequentemente, mas quando escrevi fui muito bem surpreendida, pois as pessoas davam valor ao trabalho artístico de uma criança. Porém, hoje em dia, penso que se fosse escrever poesias como ofício único seria uma jornada trabalhosa, tanto pela inspiração, pois quando somos criança a imaginação vai muito mais longe, quanto pela desvalorização do escritor e da falta de motivação à leitura. Quando eu
Figura 4 Livro de Bira Macedo. Foto do autor.
estudava no fundamental I, na época que escrevi a maior parte do meu livro, a leitura era muito incentivada nas escolas aqui em Coração, o que admiro muito. Porém, poucas crianças têm o hábito de ler em casa, quando crescemos isso muda ainda mais drasticamente. Penso que em tempos de quarentena, que vivemos atualmente, se tornou mais perceptível que os livros são uma maneira de ocuparmos a mente e viajarmos para fora de nossa própria casa. No dia-a-dia, porém, ainda encontro essa desvalorização da leitura e, consequentemente do ofício do escritor”.
Maria Clara não tem atuado muito, nos últimos anos, no ofício de escritora, mas afirma, sobre se se sente realizada nesse ofício:
“Enquanto escrevi e publiquei os meus escritos, isso me fez muito realizada. Era um sonho de criança que consegui realizar. Hoje, utilizo a escrita para organizar muitas áreas da minha vida, para autoconhecimento. Então, se e quando voltar a escrever literatura, penso que continuarei muito realizada. A escrita abre nossa mente e nos leva a ver o mundo com olhos mais observadores”.
Com relação a que tipo de respaldo ela gostaria de ter para que seu ofício fosse, definitivamente, reconhecido, a autora respondeu:
“Acho que ainda falta incentivo concreto e maior divulgação de eventos literários em cidades como a nossa. Apesar de Coração valorizar muito a cultura do município, como realizando o ‘Diz que é de Coras’ e outros eventos, ainda penso que seria incrível uma estimulação concreta das produções artísticas aqui. Falo isso em âmbito local, pois sei que muitos possuem potencial para serem artistas na cidade, mas encontram poucos ambientes para exporem suas obras. Eventos como o psiu poético, locais como a biblioteca pública, tornando-a mais funcional e estando essa ligada à estimulação da leitura e escrita, incentivariam muitos a escreverem e, dessa maneira, seria dada maior visibilidade à escrita como um ofício propriamente dito”.
A escritora não me informou se sua obra ainda está à venda ou se já se esgotou. Interessados no livro, acesse seu perfil no Facebook para tirar dúvidas.



Próximo artigo deste Blog: Ubirajara Alves Macedo: o autor através do tempo








sexta-feira, 17 de abril de 2020

Escrever em tempos atuais


Ser escritor em tempos de multimídia

Gilberto Medeiros

 
Imagem: Entre Coisas. Fotografia do Autor.

O escritor é uma figura que atravessou os séculos, mesmo o milênios, na história da humanidade. Por si só já é a personificação do trabalho que realiza. No entanto, há sempre uma indagação quando se trata do trabalho do escritor: o ato de escrever seria por si só uma profissão? Podemos definir, claramente, o trabalho do médico, do professor, do advogado, do pedreiro entre muitos outros como uma profissão sem medo de errar. Mas e o escritor? Exerce uma profissão ao escrever? Essa dúvida é ainda mais latente quando se percebe que a maioria dos escritores exerce essa função não como ato puramente profissional, mas como uma segunda, terceira e até quarta opção.  É visível que a maioria dos escritores tem outra profissão. Assim, são professores escritores, advogados escritores, médicos escritores, pedreiros escritores etc. Não conheço, e não sei de alguém que conheça, um escritor que viva apenas de sua escrita. No entanto, podemos definir o ato de escrever como uma profissão sim, mesmo que seja cumulada com outras atividades. É uma profissão reconhecida no Brasil como tal, embora não regulamentada, o que significa que não está coberta pelos mesmos direitos que as demais profissões. Por outro lado, temos também sindicatos de escritores e outras instituições representativas da classe, embora sejam mais iniciativas locais.
O trabalho do escritor sempre foi um desafio em qualquer lugar e em qualquer tempo. No mundo contemporâneo, especialmente neste momento em que vivemos uma explosão das multimídias, não é muito diferente. Sei, por experiência própria, que integrar a classe de escritores significa está apto para enfrentar muitos desafios e correr o risco de ter que desistir no meio da estrada. Pois não se trata só de ser apenas um escritor, é preciso fazer com que o que você escreva seja lido. Ou seja, um escritor precisa, necessariamente, ter leitores para que sua escrita esteja viva e presente. Não se trata apenas de vender o que se escreve, mas de fazer chegar, o mais longe possível e a mais pessoas possíveis.
A vida de um escritor, no Brasil, sobretudo, esta cercada de dificuldades. De 100 autores, dois ou três, com muita sorte, consegue fazer seu trabalho ganhar destaque. A batalha para encontrar uma editora que queira publicar seu trabalho é tão árdua quanto produzi-lo, e para muitos, é ainda mais árdua. Normalmente um autor brasileiro, com publicações no Brasil, ganha apenas 10% do valor de capa de um livro, o restante está dividido entre custos editoriais, distribuição e com livraria. Temos ainda a tiragem muito limitada. Um escritor, ou uma escritora, com uma média de leitores e um seguimento razoável, faz uma tiragem de até 3.000 livros no Brasil, e demorará até dois anos para vendê-los. Se conseguir vender todos os seus livros nesse tempo, ganhará, em média, R$500,00 por mês. Uma renda da qual não dá para depender. Assim, a maioria dos escritores acaba escrevendo para realizar um sonho, outros acabam conseguindo entrar para o mercado editorial e ganhar mais dinheiro.
As dificuldades para atrair a atenção de uma grande editora é hercúlea. Diante disso, surgem novas formas de escrever e publicar o que produzimos. É preciso destacar que as editoras também sofrem com isso, pois a burocracia e o desejo de acertar sempre, o que as faz publicar apenas autores que vendem, têm feito muitas editoras poderosas caírem e a maioria delas fundirem-se em grupos editoriais maiores. Do lado dos escritores, surge a geração de escritores multimidiáticos, isto é, escrevem em perfis e páginas de mídia digitais, tais como o Facebook e o Instagram. Os poetas são os principais desta geração. Isso se deve a um fator muito perceptível: a poesia é bela, mas nem tão vendável. Dessa feita, nós, os poetas, abrimos espaços à força nas mídias digitais para fazer nosso trabalho chegar mais adiante. Criamos saraus online, blogs, perfis, páginas, fazemos lives, publicamos e-books e trabalhamos no nosso próprio sistema de marketing. Realizamos cursos à distância para saber como escrever, publicar e divulgar nossos trabalhos e contamos com amigos para ajudar nessa divulgação e venda. Junto com a geração de escritores de mídias, surge também a geração de leitores multimidiáticos. O conforto de se ter uma biblioteca na palma da mão, sendo acessada pela tela de um celular, a facilidade de se acessar essa biblioteca de qualquer lugar, e o preço dos livros, levaram milhares de leitores a redirecionarem suas intenções para a leitura digital. Outro seguimento que viu isso e se apossou desta nova forma de se editar e se ler, foi o seguimento dos editores. Assim, sugiram plataformas especializadas em publicar, vender e distribuir livros e Apps especializados em vendê-los e distribuí-los.

Porém, ainda somos escritores de obras impressas. Nossa mentalidade é milenar. Um arquétipo bem estruturado e, por isso, ainda não conseguimos abrir mão, totalmente, de um bom livro impresso. Somos frequentadores de bibliotecas, temos estantes de livros em casa e ensinamos aos nossos filhos como ler e carregar um livro debaixo do braço.
No entanto, estamos nos tornando mais especializados em escrever e editar nossos próprios livros, mesmo que sejam impressos.
Imagem: Fotografia da Tarde. Foto do autor.
Fazemos praticamente todo o trabalho. Possuímos aplicativos de diagramação, estruturação das capas, montamos a fichas catalográficas etc. Além disso, nos tornamos mais livres no uso de imagens nas capas de nossos trabalhos, desde que sejamos os próprios autores ou que os direitos sejam negociados adequadamente. Acabamos fazendo mais publicações de Edição do Autor do que de outra maneira. De qualquer forma, estamos na geração que usa a mídia a nosso favor para escrever, e o que buscamos é que este espaço nos seja maior e nos proporcione a ampliação de nossos trabalhos para conquistarmos nossas metas: escrever, publicar e sermos lidos.

Espero você para a leitura de meu próximo texto: Escritores de Coração de Jesus e suas batalhas.



terça-feira, 7 de abril de 2020

Estranha Poesia


Olá pessoal!
Resolvi voltar a publicar em meu Blog, coisa que não faço há muito tempo.
Publicarei, para recomeçar, a Apresentação de meu livro Estranha Poesia, escrita por Bira Macedo.


Apresentação

Uma apresentação de um simples semianalfabeto, para Gilberto Medeiros.

                                                   Cantar é próprio de quem ama.
                                                     (Sto. Agostinho)


Sim, um irmão de versos, e graças a Deus vale a pena viver e conhecer este trabalho. Sim, não obedecer a nenhuma sequência de fatos, nem à ordem cronológica dos mesmos. Deixarei a esmo vagar a memória, e falar abertamente o coração.
Estou viajando nas páginas; este livro é um cântico. O autor escreveu com todo o sentir de sua alma, profundamente humana, em prosa impregnada de amor e de um encantamento que só os poetas vivem.
Amor que transpira de simplicidade das suas enternecedoras confidências, da humildade das dedicatórias, da sinceridade dos seus relatos poéticos contemplativos, da sua visão cristã do mundo, da isenção de quaisquer propósitos de interesses pessoais e do próprio objetivo do livro: simbolizar a gratidão... o amor.

Na planície imensa, triste, em que campeiam o materialismo e o egoísmo dos nossos dias, surge raramente um oásis espiritual, um raio de luz nas trevas das nossas escuras apreensões.
É um oásis espiritual saber expressar em versos, “indiscutivelmente”.
Após a sua leitura, nos sentimos tal como no final de uma piedosa missa em que o oficiante nos deixa na alma a alegria de viver, a confiança no futuro, a sensação de que vale a pena praticar o bem e por ele lutar e viver, e a certeza de que, felizmente, há ainda quem acredita vivamente nos desígnios e na presença da Natureza e o canta na linguagem pura do coração, em versos poéticos...
Tudo nos foi transmitido num estilo despretensioso, suave, agradável, tocantemente simples, como simples é a alma grande e boa de Gilberto Medeiros.
Este é o seu primeiro livro de poemas. Gilberto Medeiros nos traz um rico conjunto de obras de grande suavidade e doçura, marcadas por um sentimento do belo que passeia entre a natureza, as relações do eu com o mundo, com o universo, que circula entre as dores, paixões, desejos e frustações de todos nós, habitantes efêmeros desse nosso planeta.
Peço desculpas ao autor, tento mostrar a beleza pura e simples dos seus versos, mas não sei, não sei se serei capaz de deixar aqui palavras que toquem, como seus poemas, os corações dos seus leitores e admiradores.
Meu caro companheiro, amigo, colega nos versos sentimentais e de uma nostalgia que flora em nosso eu, desculpe, mas quero uma desculpa com amizade: é merecedor de um comentarista estilo Machadão, não um simples plebeu como eu.
Agradeço pela confiança, pela sua coragem de deixar em mãos leigas um monumento como este, onde a voz interna do “ser”, mostra a realidade em versos. Nada mais poderei acrescentar. Vejam o prefácio do autor, diz tudo, leiam o poema “Sagrado Profano” onde o autor se mostra...
Como foi difícil para mim conseguir um relato assim, segundo os preceitos do ritual que ilustra e rege essas páginas. Quase o consegui, sei. O que escrevi, soltei lá de dentro do meu eu as lembranças e aumentei, dentro de minha alma, a beleza dos versos de nosso querido Gilberto Medeiros.
Coração de Jesus, dezembro de 2019.

Ubirajara Alves Macedo*
*Contador de formação. Jornalista por experiência. Poeta, escritor e historiador da cultura local, com vários livros publicados. Artesão. Presidente da Fundação Cultural José Alves de Macedo. Presidente da Academia de Artes, Letras e Ciências de Coração de Jesus. Secretário de Cultura de Coração de Jesus.


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