A AVALIAÇÃO NA EAD: UM CAMINHAR DIFERENTE
Gilberto
A. S. Medeiros1; Gilson Fonseca Mota2; Hilda Marta G.
Antunes3;
1Habilitado
em História pela UNIMONTES. Professor de história. Tutor presencial do Curso
Técnico em Multimeios Didáticos do IFNMG. Coordenador/Diretor de Centro de
Educação Infantil. 2Graduado em Sistemas de Informação. Trabalha na MCTrans.
Tutor a Distância no IFNMG. 3Habilitada em Pedagogia pela UNIMONTES. Especialista
em Educação Básica na Rede Pública na E.E. Levi Durães Peres em Montes Claros.
Professora tutora no curso de Pedagogia da UNIUBE EAD em Montes Claros e
Janaúba, MG.
Resumo: O presente artigo apresenta elementos que compõem o novo
contexto educacional configurado pelos ambientes digitais de aprendizagem,
assim como as suas relações com o processo de avaliação da aprendizagem.
Apresenta também a necessidade de que haja uma preocupação em utilizar a
avaliação como estratégia pedagógica, e não como instrumento de verificação da
aprendizagem.
Palavras-chave: Educação a distância; avaliação da aprendizagem; ambientes
digitais de aprendizagem.
Introdução
No mundo
moderno predomina o conceito de evolução acelerada, sobremaneira, nas
tecnologias. O fato de a sociedade viver submersa ao desenvolvimento
tecnológico da humanidade, imprime a percepção de que mesmo a história parece
andar mais rápido. Tal como a tecnologia e a história, a educação vem passando
por novo processo de desenvolvimento.
O surgimento da
EaD no século XIX trouxe à tona novo cenário da realidade educativa para a
humanidade. Hoje, essa modalidade de educação submete-se ao desenvolvimento e
ampliação das tecnologias da informação e comunicação (
TICs),
as quais, adentrando o ambiente educacional, possibilita novas maneiras de
educar e avaliar o processo de ensino aprendizagem.
Este trabalho
objetiva apresentar novos elementos do contexto de ensino aprendizagem na EaD,
o uso de recursos digitais nesse processo e apontar a avaliação em EaD como
processo contínuo e processual. Constitui-se de uma pesquisa bibliográfica.
Contextualizando a avaliação em EaD
A história do
processo
avaliativo da aprendizagem no Brasil demonstra atitudes centradas em quem
avalia. Até muito recentemente, não se levou em conta as capacidades de
aprendizagem do aluno como sujeito educacional, nem seu contexto. Os métodos
avaliativos concentravam questões com perguntas e respostas exatas, mormente
retiradas das anotações do professor, aplicadas no quadro negro, ou de algum
material utilizado por este ao ministrar suas aulas. O nome comum para as
avaliações resultantes desse processo é “prova”, escrita ou oral. Tal processo
era demasiado subjetivo, no qual valia a opinião do avaliador, no caso o
professor, em detrimento da opinião do avaliado, no caso, o aluno.
Na prática,
qualquer profissional da educação, que prese o mínimo a aprendizagem de seus
alunos, percebe que a avaliação da aprendizagem vem sendo aplicada de forma a
“medir” os resultados de um processo de ensino aprendizagem em grande medida
deficiente. Moura ressalta que “a avaliação tem sido praticada para aprovar ou
reprovar os alunos, caracterizando-se como uma ameaça que intimida o aluno”
(MOURA, 2007, p. 01).
Pode-se
indagar sobre o processo de avaliação da aprendizagem em EaD a partir do exposto
acima: se na educação presencial, onde ocorre maior contato entre professor e
aluno o processo avaliativo ainda é, em grande medida, usado como meio para
intimidar e medir conhecimento, como poderia ser na educação a distância, onde
o contanto entre aluno e professor dilata-se para além das salas de aula comuns
e do ambiente físico limitado por um prédio escolar e suas mediações?
Pinto
acredita que a
avaliação da aprendizagem na EAD visa trabalhar uma
complexidade maior de competências cognitivas, transformando o aluno em
autodidata, onde ele tenta construir o pensamento, buscando os próprios
caminhos e direcionamento para o estudo a distância (PINTO, 2009, p. 03).
O método
proposto pela EaD, apresentado por Pinto, pretende levar em consideração as
competências que o aluno desenvolve no processo de ensino aprendizagem.
Primeiramente, considera o aluno sujeito do seu próprio processo educativo, não
como mero espectador da aplicação de conteúdos totalmente pré-definidos pelo
professor ou pelo sistema educativo. Considera-o capaz de construir seu
aprendizado e protagonizá-lo. Depois, possibilita ao aluno organizar e definir
seu tempo e espaço educativos, capaz geri-los a partir da sua liberdade em
escolher onde estudar e como estudar.
Fator de suma
importância na proposta avaliativa da EaD, referida por Pinto, é o de pretender
transformar o aluno em autodidata, onde o mesmo pode construir não apenas o seu
pensamento, mas contribuir para a construção do pensamento dos outros. Por
outros entende-se, aqui, aqueles que estão em direta relação com o estudante:
professores e colegas em primeiro lugar, família, amigos e comunidade em
segundo lugar, leitores e admiradores de suas produções e criações em último lugar.
O
autodidatismo
no processo avaliativo em EaD, além de ser uma propostas nova e ousada, vai
contra quase tudo que se pode perceber em avaliação da aprendizagem até o
momento. Soma-se a isso a condição desse processo de se dar de maneira contínua
e processual, ou seja, durante a realização de todo um curso em EaD, e não
apenas como fechamento de conteúdos ou de cursos, apenas através de “provas ou
testes” (PINTO, 2009, p. 03).
Afora toda a
discussão em torno da avalição em EaD como objeto novo no processo ensino
aprendizagem voltada para uma nova forma de avaliar, permanece ainda o
questionamento: por que “provas” de múltipla escolha ou mesmo abertas nas
chamadas
Avaliações
Online” (AO)? Ou: por que avaliações presenciais, em determinados cursos,
se a propostas inovadora é aponta outra direção?
Parte disso
deve-se ainda a ligações aos métodos avaliativos tradicionais. Muitos dos
avaliadores em EaD são também avaliadores na educação presencial que ainda não
desprenderam-se de seus métodos avaliativos arraigados em subjetividades. Não
raro, constata-se também a presença de alunos que acreditam que a forma correta
de avaliar é aquela por meio de provas escritas ou orais, isto é, as avaliações
advindas dos métodos tradicionais.
Outra parte
da constante presença de provas escrita na EaD deve-se às normas legais
estabelecidas pelos sistema educacionais e pelo próprio Ministério da Educação
e da Cultura (MEC), exigindo que parte das avaliações em educação a distância
seja presencial e objetiva, no sentido de respostas de múltipla escolha ou
escritas, embora já existam entidades educativas que realizem suas avaliações
totalmente online.
Mesmo a
avaliação em EaD apresentando tais dificuldades, ela não deixa de ser um
processo diferente do método tradicional, sobretudo porque pode-se desenvolver
por meio de recursos tecnológicos introduzidos na educação pelo avanço das
novas tecnologias da informação e comunicação, as popularmente conhecidas TICs.
O uso de novos recursos tecnológicos no processo de ensino aprendizagem e da
avaliação da aprendizagem em educação possibilitou o surgimento dos ambientes
digitais de aprendizagem. O que caracteriza esses ambientes digitais de
aprendizagem? O que são tais ambientes?
Segundo
Caldeira,
a introdução de formas diversificadas de interação, a
possibilidade do registro e eventual classificação dessas interações, as formas
de intervenção do professor e dos pares são algumas das características que
configuram os ambientes digitais de aprendizagem como espaços totalmente
diferenciados dos presenciais, e ao mesmo tempo diferenciados do modelo
clássico de educação a distância, onde aprender era uma tarefa praticamente
solitária (CALDEIRA, 2004, p. 01).
Os
ambientes digitais de
aprendizagem são ambientes como as plataformas
Moodle, os
Wikis, os
AVAs entre outros, por meio dos quais pode-se realizar todo um
processo educativo destacando a interação entre as partes: professores,
gestores, alunos...
De tal modo, a
interação entre avaliador e avaliado no processo de ensino aprendizagem em EaD
é fundamental para uma avaliação contínua e processual. Além disso, conforme
Caldeira, esses ambientes digitais de aprendizagem e avaliação registram e
classificam as formas de interação entre professor e aluno, bem como
possibilitam feedbacks entre os
sujeitos da educação.
Vê-se,
portanto, ampla diferença entre o processo tradicional de avaliação em educação
e o processo proposto pela EaD. Em sendo a EaD, atualmente, modelo de educação
quase totalmente online (OLIVEIRA e CRUZ, 2010) , via meios digitais, faz-se
necessário uma breve abordagem dos principais recursos utilizados, ou que podem
ser utilizados, na avaliação e EaD.
Usando novos recursos tecnológicos na avaliação da aprendizagem em EaD
Antes
de prosseguir aos recursos que podem ser utilizados na avaliação em EaD, é
preciso destacar as características fundamentais dos ambientes digitais de
aprendizagem que esses recursos possibilitam. Caldeira cita cinco
características importantes: assincronicidade, comunicação escrita (tendo o
texto por base), multiplicidade (interatividade), independência e mediação por
computador (CALDEIRA, 2004, p. 02).
Pode-se
ainda acrescentar pelo menos mais três características importantes possíveis
nos últimos anos pelo avanço das tecnologias e dos meios de comunicação: uso predominante
da internet, uso de imagens e vídeos e mediação por meio de objetos midiáticos
que não o computador (como smartfone).
Pinto
elenca uma série de recursos tecnológicos que podem ser utilizados como meio no
processo de avaliação do ensino aprendizagem em educação a distância:
1) diários
de bordo: Registro onde aluno e professor podem registrar todos os avanços
no decorrer da disciplina, 2) fóruns de Discussão: Ferramenta assíncrona onde
alunos, tutores e professores podem trocar informações e experiências sobre um
determinado tema ou assunto pré-estabelecido para discussão, 3) chats (bate papo):
Ferramenta síncrona onde alunos podem tiram suas dúvidas com os tutores e
professores, debater algum assunto que ficou pendente (PINTO, 2009, p. 07).
Além
desses recursos, Pinto (2009) indica outros que podem ser utilizados por
professores e alunos em avaliações do aprendizado em EaD. Tais como os
mapas
conceituais (chamados também de
cartografia
cognitiva), por meio dos quais os professores podem avaliar a
capacidade de absorção de conhecimento do aluno e sua habilidade sintética; e
várias ferramentas que os alunos dominam em seu dia-a-dia, como os “sites de
relacionamentos
orkut,
Hi5 e
MySpace,
blogs,
Second Lifev e Jogos Interativos”
(PINTO, 2009, p. 07), por meio dos quais os alunos podem expressar suas
opiniões e publicar mensagens curtas bem como posts significativos sobre
educação entre outros temas.
Ainda podem
ser utilizados os sites de compartilhamento de vídeo e fotos, como: youtube e Picassa e Flickrvi, por
meio dos quais os alunos podem compartilhar produções realizadas em atividades
várias em cursos de EaD ou vídeos sugeridos por eles como fontes para ampliar o
conhecimento; o ning, o facebook e mesmo o twitter, pelos quais os alunos podem criar redes de comunidades
alcançando maior interação no processo educativo.
Por fim, Pinto aponta a
Wiki como
fundamental na avaliação em EaD, conceituando-a como “ferramenta online para a
criação colaborativa de páginas para a internet, tendo como principal objetivo
a construção de textos de forma colaborativa onde não existe um único autor e
sim um conjunto de colaboradores” (PINTO, 2009, p. 08).
O uso da Wiki no processo avaliativo em EaD
destaca o autodidatismo do aluno e a interatividade na aprendizagem em EaD como
pontos fundamentais na construção de uma nova forma de avaliar na educação.
Conclusões
Após o
exposto neste texto, conclui-se que o processo de avaliação da aprendizagem em
EaD precisa e deve-se configurar em um processo contínuo, que considere o aluno
como sujeito e como autodidata. Esse processo ainda é um desafio para a
educação a distância devido ser uma novidade.
Conclui-se
ainda que a EaD pode disponibilizar de vários recursos tecnológicos para sua
avaliação da aprendizagem, afastando-se, assim, cada vez mais, dos métodos
tradicionais e subjetivistas, nos quais o aluno não tem voz ou vez, ficando
restrito ao professor a decisão de indicar o certo ou errado na elaboração do
conhecimento por meio de avaliações restritivas e subjetivas.
Por fim, o
uso de novos recursos em avaliação da aprendizagem em EaD, não é apenas resultante
das transformações tecnológicas modernas, mas urgência educativa que visa
ampliar os horizontes da avaliação em EaD, valorizando o contexto de vida e
cotidiano do aluno e suas perspectivas educativas e profissionais.
Referências
CALDEIRA, Ana Cristina Muscas. Avaliação da aprendizagem em meios digitais:
novos contextos, 20004. Disponível em
http://www.abed.org.br/congresso2004/por/htm/033-TC-A4.htm Acesso em 06 de ag.
de 2015.
OLIVEIRA, Valéria do Carmo de; CRUZ, Fátima
Maria Leite. A avaliação da aprendizagem
na educação a distância: um estudo
sobre as concepções docents na ead online. IN 3º Simpósio Hipertexto e Tecnologias da Educação: redes sociais e aprendizagem. Anais Eletrônicos,
2010. Disponível em https://www.ufpe.br/nehte/simposio/anais/Anais-Hipertexto-2010/
Acesso em 06 de ag. de 2015.
MOURA, Lucilene Tolentino. Avaliação escolar e afetividade. 2007. Disponível em http://saci.org.br/?modulo=akemi¶metro=19976
Acesso em 06 de ag. de 2015.
PINTO, Ibsen Mateus Bittencourt Santana. Avaliação da aprendizagem na ead. 2009.
Disponível em
http://www.abed.org.br/congresso2009/CD/trabalhos/2752009231050.pdf Acesso em
06 de ag. de 2015