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Foto: Nalva Oliveira |
Ler e escrever estão entre as maiores conquistas da humanidade, vindo logo depois de aprender a andar e se comunicar (fala). No entanto, como toda grande conquista, ler e escrever não é fácil e nem sempre foi acessível à maioria das pessoas. Embora a leitura e a escrita façam parte da história humana há séculos, só no século XX apareceu uma história da leitura. E, mesmo que no início ambas estivessem atreladas, hoje a leitura praticamente independe da escrita, isto é, o público leitor hoje é amplo e não depende de escrever para praticar a leitura, embora seja impossível que quem escreva não leia.
Baseado
nos estudos feitos por essa vertente histórica, constatamos que a “prática da
leitura” foi muito tímida durante muito tempo e foi “transformando-se de acordo
com a construção social de cada uma dessas épocas” (FERNANDES, 2022). Dessa
forma, a prática da leitura está atrelada ao suporte da escrita e às pessoas a
quem ela se destina. Os suportes serão acessíveis e o público muda conforme a
época. Os suportes historicamente mais conhecidos vão das tabuinhas cuneiformes
da Mesopotâmia Antiga, “passando por rolos de papiros, códices, escritos em
pedra, escritos em couro” (FERNANDES, 2022) até os monitores e telas de
computadores modernos. Esses suportes contribuíram para limitar, ou moldar, a prática
de leitura em cada período.
O
público leitor também variou historicamente. Nas sociedades antigas, em que as
práticas de leitura estavam vinculadas ao sacerdócio, aos escribas ou a pessoas
ligadas à hierarquia social, era costume a leitura oral, alta, para um público
maior de pessoas, com as leituras em praça para anunciar normas legislativas ou
nas grandes escolas, como as de Atenas, para um grupo maior de alunos, cujo
aprendizado dava-se pela decoração e recitação de trechos ouvidos, como os das
epopeias de Homero. Nesse período “a leitura não estava
associada a algo prazeroso, interessante ou solitário, mas acima de tudo ao
trabalho” (LINS, 2020).
A
Prática da leitura silenciosa foi desenvolvida pelos monges copistas na Idade
Média, que precisavam de um ambiente calmo e silencioso para realizar seu
trabalho: copiar, iluminar e resguardar os códices (FERNANDES, 2022). Além da
leitura silenciosa, na Idade Média era comum a leitura em pé, curvada sobre o
texto, em postura de contemplação do que se lia. Isso faz da leitura algo
transcendente. A prática da leitura silenciosa foi estendida com a invenção da
prensa, por Gutemberg, no século XV, que facilitou o acesso de um número maior
de pessoas aos livros. Estas pessoas, de posse de material extraordinário,
faziam suas leituras em casa, de modo silencioso, especialmente para não
denunciar a presença de livros em sua residência durante o período em que a
Igreja perseguiu a prática secular da produção de livros e autores cujas obras
eram censuradas.
No
século XVIII ocorrem dois eventos importantes para tornar a prática da leitura
popular: o advento do romantismo literário e as feiras de livros em várias
cidades europeias. Escritos filosóficos e panfletos políticos foram duas
produções literárias que ganharam destaque nesse período. A publicação de
livros em periódicos e jornais, no formato seriado, facilitou o acesso da
população à leitura (o que favoreceu, por exemplo, a Revolução Francesa de
1789).
No
Brasil, apesar dos movimentos ao redor do mundo em prol da leitura, durante
todo o período colonial, o período imperial e mesmo em boa parte da República,
a prática da leitura, e da escrita, estava restrita a um grupo especial de
pessoas. Durante a colonização, apenas os senhores vindos de Portugal recebiam
educação tutelada e podiam ler e escrever e até meados do século XIX,
praticamente não existiam livros no Brasil. O que se lia, neste período,
eram textos
autobiografados, relatos de viajantes, textos escritos manualmente, como
cartas, documentos de cartório, e a primeira constituição do império de 1.827,
especifica sobre a instrução pública; o código criminal e a bíblia também
serviam como manual de leitura nas raras
escolas que existiam (SOUZA FILHO, 2011).
Com
a mudança da família real para o Brasil e a exigência comercial, cresceu a
necessidade de mão de obra instruída, o que possibilitou a ampliação do ensino
da escrita e da leitura. Essa possibilidade, na verdade, assim como outras
mudanças, foram exigidas pelas transformações que ocorriam no mundo, como o
alcance do poder político pela burguesia em vários países europeus, a Revolução
Industrial, a Francesa, a mudança do ponto de vista do homem sobre as coisas
com o Renascimento e o Iluminismo, a queda de teorias como o Teocentrismo e o
Geocentrismo, sendo substituídas pelo Antropocentrismo e o Heliocentrismo (Cf.
SOUZA E FILHO, 2011).
Chegado
a esse ponto, constatamos que a prática de leitura é esclarecedora e libertadora
e, apesar de não ser fácil e de poder ser incentiva externamente, é pessoal,
subjetiva, dependendo de “alguns fatores, como a interpretação e a capacidade
de retirar sentidos dos símbolos que ali estão colocados” (LINS, 2020), do
contato com material de leitura, do ambiente e do tempo. No dizer de Souza
Filho
há de se considerar o
lugar de onde as pessoas falam, a imagem que elas têm umas das outras, a
posição social dessas pessoas e ainda o que dizem e até o que não dizem
dizendo, ou melhor, a questão dos não-ditos. Observando, ainda, principalmente:
o contexto sócio-histórico e ideológico no qual esses interlocutores estão
inseridos” (SOUZA FILHO, 2011).
A
postura também é importante. Ou seja, não é apenas o que se lê, de onde se lê,
mas também como se lê que possibilita à pessoa o resultado positivo final.
Deste modo, a formação de leitores é uma exigência fundamental para a posição
da pessoa na história, no seu meio social e para seu sucesso. É um processo
árduo “porque se torna fundamental explorar a imaginação e a capacidade de
criar novos cenários” (VINICIUS, 2022).
De
tal modo, formar leitores significa possibilitar o acesso de mais pessoas à
leitura, que hoje também é tomada como prazer. É ofertar às pessoas, jovens ou
não, formas de entrar em contato com outras culturas, outros mundos, de saber o
que se passa nas mentalidades dos povos em todo o mundo. É favorecer o acesso a
um processo de libertação da mente, de ampliação do conhecimento, de uso da
criatividade e da formação crítico-social.
A
leitura possibilita viagens a mundos diferentes sem que a pessoa saia do lugar.
Ela é o principal fator da formação do pensamento crítico, “pois a pessoa que
lê conhece o mundo e conhecendo-o terá condições de atuar sobre ele,
modificando-o e tornando-o melhor” (ZUCCA e ALMEIDA, 2019). A leitura tem o
poder da democratização da pessoa e, por isso, a formação do leitor é
fundamental para a humanidade e deve ser adota e aplicada por todas as pessoas.
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Foto: Nalva Oliveira |
Com
o tempo passei a comprar meus próprios GIBs, que incluíam os almanaques da
Disney e as Revistas de Canan Rei. Quando saí do campo fui embora para Montes
Claros e passei a ter acesso aos livros da Biblioteca da EE Deputado Esteves
Rodrigues, onde concluí o Ensino Fundamental, já na idade adulta. Li todos os
livros que me interessavam naquela biblioteca e ganhei um concurso de poesia
organizado pela UNIMONTES. Tive acesso também ao acervo da Biblioteca do Centro
Cultural Hermes de Paula, Montes Claros, onde retirava livros semanalmente e
passava boa parte do meu tempo estudando. Já no Seminário, tive acesso à biblioteca
do mesmo, mais para formação acadêmica. Nesta época já havia me tornado um
“leitor voraz”.
Meu
maior sonho sempre foi tornar-me escritor e isso impulsionou minha vontade de
ler. Quando ainda estava em Montes Claros, comecei a comprar livros e a formar
meu acervo pessoal que hoje soma mais de setecentos livros. Sou um leitor de
livros impressos, embora cultive a prática da leitura de livros digitais.
Cataloguei uma série de escritores internacionais e nacionais, cujas obras
estão entre as que mais leio. Desenvolvi também uma ordem para facilitar a
leitura: releituras importantes, leituras de autores novos, leituras de obras
universais (incluindo minhas áreas de conhecimento e estudo), leituras de
autores brasileiros, leituras de autores regionais e locais (tenho uma
prateleira só para essa literatura), leituras da literatura LGBTQIA+, leituras
da literatura negra, outras literaturas (especialmente das linhas militantes).
Manter um padrão de leitura e um planejamento mínimo é importante para focarmos
no que estamos lendo e ficar a par do que acontece em todos os lugares. Focar
em uma área também é importante, embora não se possa deixar de explorar todas
as possibilidades. Pessoalmente aplico-me mais à leitura de romances históricos
e construções literárias do fantástico, mas de modo nenhum deixo de mergulhar
nas outras áreas da literatura.
Houve
anos em que li cerca de 70 a 80 livros. Entre os anos 2017 e 2019, tive esse
fluxo de leitura bastante afetado pelos cargos que venho ocupando. Atualmente,
especialmente com a pandemia, tenho aumentando significativamente meu ritmo de
leitura e ampliado a quantidade de livros que leio.
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Foto: Nalva Oliveira |
TEXTOS
CONSULTADOS
FERNANDES, Cláudio.
História da Leitura. Disponível em https://www.historiadomundo.com.br/curiosidades/historia-leitura.htm
Acesso em 11 jul. 2022.
FILHO E SOUZA,
Marinho Celestino de. Breve história da leitura e da escrita. Disponível em http://www.redemebox.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=26218:breve-historia-da-leitura-e-da-escrita&catid=282:287&Itemid=21#:~:text=BREVE%20HIST%C3%93RICO%20DA%20LEITURA%20Entre%20n%C3%B3s%20a%20hist%C3%B3ria,descobridores%20e%20benfeitores%2C%20permanecendo%20assim%20por%20longo%20per%C3%ADodo.
Publicado em 28 set. 20221, Acesso em 11 jul. 2022.
LINS, Lívia Carvalho
Teixeira. História da Leitura. Revista Educação Pública, v. 20, nº 5, 4 de
fevereiro de 2020. Disponível em:
https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/20/5/historia-da-leitura. Acesso
em 11 jul. 2022.
VINÍCIUS, Paulo. A
importância da formação de leitores. Disponível em https://www.ficcoeshumanas.com.br/post/a-import%C3%A2ncia-da-forma%C3%A7%C3%A3o-de-leitores.
Acessado em 11 jul. 2022.
ZUCCA, Viviane
Chagas. ALMEIDA, Roseli Maria Rosa. A Leitura e a sua importância: Formação de
Leitores no 3° ano do Ensino Fundamental. Revista Científica Multidisciplinar
Núcleo do Conhecimento. Ano 04, Ed. 09, Vol. 05, pp. 36-53. Setembro de 2019.
ISSN: 2448-0959, Link de acesso:
https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/formacao-de-leitores.
INDICAÇÃO DE LEITURA SOBRE O TEMA DA PALESTRA
Livros
Os desafios da
escrita – Roger Chartier
História da Leitura –
Steven Roger Fischer e Cláudia Freire
Uma história da
leitura – Alberto Manguel e Pedro Maia Soares
A formação da leitura
no Brasil – Marisa Lajolo e Regina Zilberman
Textos da minha autoria
Ser escritor em
tempos de multimídia
Escritores de Coração
de Jesus e suas batalhas
Ubirajara Alves
Macedo: o autor através do tempo
Todos disponíveis no
meu blogger https://historiaehipermidia.blogspot.com/.
Como me encontrar
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