sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Artigo Avaliação na EAD

A AVALIAÇÃO NA EAD: UM CAMINHAR DIFERENTE

Gilberto A. S. Medeiros1; Gilson Fonseca Mota2; Hilda Marta G. Antunes3;
1Habilitado em História pela UNIMONTES. Professor de história. Tutor presencial do Curso Técnico em Multimeios Didáticos do IFNMG. Coordenador/Diretor de Centro de Educação Infantil. 2Graduado em Sistemas de Informação. Trabalha na MCTrans. Tutor a Distância no IFNMG. 3Habilitada em Pedagogia pela UNIMONTES. Especialista em Educação Básica na Rede Pública na E.E. Levi Durães Peres em Montes Claros. Professora tutora no curso de Pedagogia da UNIUBE EAD em Montes Claros e Janaúba, MG.

Resumo: O presente artigo apresenta elementos que compõem o novo contexto educacional configurado pelos ambientes digitais de aprendizagem, assim como as suas relações com o processo de avaliação da aprendizagem. Apresenta também a necessidade de que haja uma preocupação em utilizar a avaliação como estratégia pedagógica, e não como instrumento de verificação da aprendizagem.

Palavras-chave: Educação a distância; avaliação da aprendizagem; ambientes digitais de aprendizagem.

Introdução

No mundo moderno predomina o conceito de evolução acelerada, sobremaneira, nas tecnologias. O fato de a sociedade viver submersa ao desenvolvimento tecnológico da humanidade, imprime a percepção de que mesmo a história parece andar mais rápido. Tal como a tecnologia e a história, a educação vem passando por novo processo de desenvolvimento.
O surgimento da EaD no século XIX trouxe à tona novo cenário da realidade educativa para a humanidade. Hoje, essa modalidade de educação submete-se ao desenvolvimento e ampliação das tecnologias da informação e comunicação (TICs), as quais, adentrando o ambiente educacional, possibilita novas maneiras de educar e avaliar o processo de ensino aprendizagem.
Este trabalho objetiva apresentar novos elementos do contexto de ensino aprendizagem na EaD, o uso de recursos digitais nesse processo e apontar a avaliação em EaD como processo contínuo e processual. Constitui-se de uma pesquisa bibliográfica.

Contextualizando a avaliação em EaD

A história do processo avaliativo da aprendizagem no Brasil demonstra atitudes centradas em quem avalia. Até muito recentemente, não se levou em conta as capacidades de aprendizagem do aluno como sujeito educacional, nem seu contexto. Os métodos avaliativos concentravam questões com perguntas e respostas exatas, mormente retiradas das anotações do professor, aplicadas no quadro negro, ou de algum material utilizado por este ao ministrar suas aulas. O nome comum para as avaliações resultantes desse processo é “prova”, escrita ou oral. Tal processo era demasiado subjetivo, no qual valia a opinião do avaliador, no caso o professor, em detrimento da opinião do avaliado, no caso, o aluno.
Na prática, qualquer profissional da educação, que prese o mínimo a aprendizagem de seus alunos, percebe que a avaliação da aprendizagem vem sendo aplicada de forma a “medir” os resultados de um processo de ensino aprendizagem em grande medida deficiente. Moura ressalta que “a avaliação tem sido praticada para aprovar ou reprovar os alunos, caracterizando-se como uma ameaça que intimida o aluno” (MOURA, 2007, p. 01).
Pode-se indagar sobre o processo de avaliação da aprendizagem em EaD a partir do exposto acima: se na educação presencial, onde ocorre maior contato entre professor e aluno o processo avaliativo ainda é, em grande medida, usado como meio para intimidar e medir conhecimento, como poderia ser na educação a distância, onde o contanto entre aluno e professor dilata-se para além das salas de aula comuns e do ambiente físico limitado por um prédio escolar e suas mediações?
Pinto acredita que a

avaliação da aprendizagem na EAD visa trabalhar uma complexidade maior de competências cognitivas, transformando o aluno em autodidata, onde ele tenta construir o pensamento, buscando os próprios caminhos e direcionamento para o estudo a distância (PINTO, 2009, p. 03).

O método proposto pela EaD, apresentado por Pinto, pretende levar em consideração as competências que o aluno desenvolve no processo de ensino aprendizagem. Primeiramente, considera o aluno sujeito do seu próprio processo educativo, não como mero espectador da aplicação de conteúdos totalmente pré-definidos pelo professor ou pelo sistema educativo. Considera-o capaz de construir seu aprendizado e protagonizá-lo. Depois, possibilita ao aluno organizar e definir seu tempo e espaço educativos, capaz geri-los a partir da sua liberdade em escolher onde estudar e como estudar.
Fator de suma importância na proposta avaliativa da EaD, referida por Pinto, é o de pretender transformar o aluno em autodidata, onde o mesmo pode construir não apenas o seu pensamento, mas contribuir para a construção do pensamento dos outros. Por outros entende-se, aqui, aqueles que estão em direta relação com o estudante: professores e colegas em primeiro lugar, família, amigos e comunidade em segundo lugar, leitores e admiradores de suas produções e criações  em último lugar.
O autodidatismo no processo avaliativo em EaD, além de ser uma propostas nova e ousada, vai contra quase tudo que se pode perceber em avaliação da aprendizagem até o momento. Soma-se a isso a condição desse processo de se dar de maneira contínua e processual, ou seja, durante a realização de todo um curso em EaD, e não apenas como fechamento de conteúdos ou de cursos, apenas através de “provas ou testes” (PINTO, 2009, p. 03).
Afora toda a discussão em torno da avalição em EaD como objeto novo no processo ensino aprendizagem voltada para uma nova forma de avaliar, permanece ainda o questionamento: por que “provas” de múltipla escolha ou mesmo abertas nas chamadas Avaliações Online” (AO)? Ou: por que avaliações presenciais, em determinados cursos, se a propostas inovadora é aponta outra direção?
Parte disso deve-se ainda a ligações aos métodos avaliativos tradicionais. Muitos dos avaliadores em EaD são também avaliadores na educação presencial que ainda não desprenderam-se de seus métodos avaliativos arraigados em subjetividades. Não raro, constata-se também a presença de alunos que acreditam que a forma correta de avaliar é aquela por meio de provas escritas ou orais, isto é, as avaliações advindas dos métodos tradicionais.
Outra parte da constante presença de provas escrita na EaD deve-se às normas legais estabelecidas pelos sistema educacionais e pelo próprio Ministério da Educação e da Cultura (MEC), exigindo que parte das avaliações em educação a distância seja presencial e objetiva, no sentido de respostas de múltipla escolha ou escritas, embora já existam entidades educativas que realizem suas avaliações totalmente online.
Mesmo a avaliação em EaD apresentando tais dificuldades, ela não deixa de ser um processo diferente do método tradicional, sobretudo porque pode-se desenvolver por meio de recursos tecnológicos introduzidos na educação pelo avanço das novas tecnologias da informação e comunicação, as popularmente conhecidas TICs. O uso de novos recursos tecnológicos no processo de ensino aprendizagem e da avaliação da aprendizagem em educação possibilitou o surgimento dos ambientes digitais de aprendizagem. O que caracteriza esses ambientes digitais de aprendizagem? O que são tais ambientes?
Segundo Caldeira,

a introdução de formas diversificadas de interação, a possibilidade do registro e eventual classificação dessas interações, as formas de intervenção do professor e dos pares são algumas das características que configuram os ambientes digitais de aprendizagem como espaços totalmente diferenciados dos presenciais, e ao mesmo tempo diferenciados do modelo clássico de educação a distância, onde aprender era uma tarefa praticamente solitária (CALDEIRA, 2004, p. 01).

            Os ambientes digitais de aprendizagem são ambientes como as plataformas Moodle, os Wikis, os AVAs entre outros, por meio dos quais pode-se realizar todo um processo educativo destacando a interação entre as partes: professores, gestores, alunos...
De tal modo, a interação entre avaliador e avaliado no processo de ensino aprendizagem em EaD é fundamental para uma avaliação contínua e processual. Além disso, conforme Caldeira, esses ambientes digitais de aprendizagem e avaliação registram e classificam as formas de interação entre professor e aluno, bem como possibilitam feedbacks entre os sujeitos da educação.
Vê-se, portanto, ampla diferença entre o processo tradicional de avaliação em educação e o processo proposto pela EaD. Em sendo a EaD, atualmente, modelo de educação quase totalmente online (OLIVEIRA e CRUZ, 2010) , via meios digitais, faz-se necessário uma breve abordagem dos principais recursos utilizados, ou que podem ser utilizados, na avaliação e EaD.

Usando novos recursos tecnológicos na avaliação da aprendizagem em EaD

            Antes de prosseguir aos recursos que podem ser utilizados na avaliação em EaD, é preciso destacar as características fundamentais dos ambientes digitais de aprendizagem que esses recursos possibilitam. Caldeira cita cinco características importantes: assincronicidade, comunicação escrita (tendo o texto por base), multiplicidade (interatividade), independência e mediação por computador (CALDEIRA, 2004, p. 02).
            Pode-se ainda acrescentar pelo menos mais três características importantes possíveis nos últimos anos pelo avanço das tecnologias e dos meios de comunicação: uso predominante da internet, uso de imagens e vídeos e mediação por meio de objetos midiáticos que não o computador (como smartfone).
            Pinto elenca uma série de recursos tecnológicos que podem ser utilizados como meio no processo de avaliação do ensino aprendizagem em educação a distância:

1) diários de bordo: Registro onde aluno e professor podem registrar todos os avanços no decorrer da disciplina, 2) fóruns de Discussão: Ferramenta assíncrona onde alunos, tutores e professores podem trocar informações e experiências sobre um determinado tema ou assunto pré-estabelecido para discussão, 3) chats (bate papo): Ferramenta síncrona onde alunos podem tiram suas dúvidas com os tutores e professores, debater algum assunto que ficou pendente (PINTO, 2009, p. 07).
           
            Além desses recursos, Pinto (2009) indica outros que podem ser utilizados por professores e alunos em avaliações do aprendizado em EaD. Tais como os mapas conceituais (chamados também de cartografia cognitiva), por meio dos quais os professores podem avaliar a capacidade de absorção de conhecimento do aluno e sua habilidade sintética; e várias ferramentas que os alunos dominam em seu dia-a-dia, como os “sites de relacionamentos orkut, Hi5 e MySpace, blogs, Second Lifev e Jogos Interativos” (PINTO, 2009, p. 07), por meio dos quais os alunos podem expressar suas opiniões e publicar mensagens curtas bem como posts significativos sobre educação entre outros temas.
Ainda podem ser utilizados os sites de compartilhamento de vídeo e fotos, como: youtube e Picassa e Flickrvi, por meio dos quais os alunos podem compartilhar produções realizadas em atividades várias em cursos de EaD ou vídeos sugeridos por eles como fontes para ampliar o conhecimento; o ning, o facebook e mesmo o twitter, pelos quais os alunos podem criar redes de comunidades alcançando maior interação no processo educativo.
 Por fim, Pinto aponta a Wiki como fundamental na avaliação em EaD, conceituando-a como “ferramenta online para a criação colaborativa de páginas para a internet, tendo como principal objetivo a construção de textos de forma colaborativa onde não existe um único autor e sim um conjunto de colaboradores” (PINTO, 2009, p. 08).
O uso da Wiki no processo avaliativo em EaD destaca o autodidatismo do aluno e a interatividade na aprendizagem em EaD como pontos fundamentais na construção de uma nova forma de avaliar na educação.

Conclusões

Após o exposto neste texto, conclui-se que o processo de avaliação da aprendizagem em EaD precisa e deve-se configurar em um processo contínuo, que considere o aluno como sujeito e como autodidata. Esse processo ainda é um desafio para a educação a distância devido ser uma novidade.
Conclui-se ainda que a EaD pode disponibilizar de vários recursos tecnológicos para sua avaliação da aprendizagem, afastando-se, assim, cada vez mais, dos métodos tradicionais e subjetivistas, nos quais o aluno não tem voz ou vez, ficando restrito ao professor a decisão de indicar o certo ou errado na elaboração do conhecimento por meio de avaliações restritivas e subjetivas.
Por fim, o uso de novos recursos em avaliação da aprendizagem em EaD, não é apenas resultante das transformações tecnológicas modernas, mas urgência educativa que visa ampliar os horizontes da avaliação em EaD, valorizando o contexto de vida e cotidiano do aluno e suas perspectivas educativas e profissionais.

Referências

CALDEIRA, Ana Cristina Muscas. Avaliação da aprendizagem em meios digitais: novos contextos, 20004. Disponível em http://www.abed.org.br/congresso2004/por/htm/033-TC-A4.htm Acesso em 06 de ag. de 2015.

OLIVEIRA, Valéria do Carmo de; CRUZ, Fátima Maria Leite. A avaliação da aprendizagem na educação a distância: um estudo sobre as concepções docents na ead online. IN 3º Simpósio Hipertexto e Tecnologias da Educação: redes sociais e aprendizagem. Anais Eletrônicos, 2010. Disponível em https://www.ufpe.br/nehte/simposio/anais/Anais-Hipertexto-2010/ Acesso em 06 de ag. de 2015.

MOURA, Lucilene Tolentino. Avaliação escolar e afetividade. 2007. Disponível em http://saci.org.br/?modulo=akemi&parametro=19976 Acesso em 06 de ag. de 2015.

PINTO, Ibsen Mateus Bittencourt Santana. Avaliação da aprendizagem na ead. 2009. Disponível em http://www.abed.org.br/congresso2009/CD/trabalhos/2752009231050.pdf Acesso em 06 de ag. de 2015

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