quarta-feira, 12 de agosto de 2015

A tecnologia mudando a história

Tecnologia, Hiroshima e Nagasaki

Não há um só dia em que não ouvimos falar dos avanços tecnológicos imprimidos pela ciência à história. O nível de elogios a esse avanço tomou tamanha expressividade que parece não haver nenhum malefício advindo dele. Nota-se, cada vez mais, a presença constante de uma ideia segundo a qual todos os males da humanidade parecem superados. As mídias sociais conformam-se com essa ideia a ponto de dar-lhe vasão imensurável. Mas sabemos que, assim como em tantos outros temas, esse é mais um disfarce que possibilita esconder os sofrimentos causados por esses avanços e, sobretudo, eximir a humanidade de alguns dos seus mais notórios erros.

De modo algum, quero, aqui, desmerecer essa parte fundante da criatividade humana e seus benefícios para o homem. Quero, apenas, lembrar que muita coisa ruim proveio do desenvolvimento tecnológico, especialmente nos termos capitalista, e ainda estão por vir.

No dia seis de agosto completaram-se 70 anos da explosão nuclear que arrasou Hiroshima e no dia nove, três dias, portanto, após esta, a que arrasou Nagasaki. A maioria dos jornais trouxe apenas uma pequena nota sobre esses acontecimentos nesta data “comemorativa”; alguns, dados mais relevantes; muitos, nada. A maioria de outras mídias, nem sequer uma lembrança. É como se 70 anos fossem como um milênio ou o tempo necessário para a memória se curar, ou simplesmente esquecer.

Embora aquelas explosões tenham ocorrido no Japão, sua responsabilidade é de toda a humanidade. Mesmo sendo parte de um projeto insano, como a Segunda Guerra Mundial, reflete os desdobramentos dos avanços tecnológicos pelos quais a humanidade tanto ansiou. Em outra época o homem poderia ter pensado tamanha destruição? Ela seria possível sem a os resultados de pesquisas científicas e tecnológicas possíveis apenas em nossa era?

Embora a maioria dos grandes males ocorridos, sobretudo nas guerras, tenha sido fruto de avanços tecnológicos, cada qual em seu tempo e de uma forma diferente, e impulsionados por decisões políticas advindas de interesses escusos, tais como as grandes empresas do Império Romano, os carros de guerra da Mesopotâmia e do Egito, os barcos de guerra da Grécia antiga, as torres de cerco e os aríetes medievais, entre outros, somente no século XX se chegou a uma arma suficientemente perigosa para a completa destruição da humanidade. Os dedos da morte lançados por aquelas duas bombas foram tão longos e poderosos que a própria morte encolheu sua mão de susto, e hoje reflete sobre a fatalidade de tal invectiva.

Poder ou não poder soltar uma nova bomba, eis a questão. É certo que muitos pensariam uma incursão como esta para pôr fim a situações antipáticas como o avanço do chamado Estado Islâmico sobre áreas do mundo oriental, ameaçando mesmo o Ocidente. Seria uma maneira fácil de lidar com a situação e resolvê-la rapidamente. Mas então? Soltar uma nova bomba ou contentar-se com mísseisnucleares teleguiados, que não causam mal menor, mesmo que cada um não tenha o mesmo poder de uma bomba nuclear, mas muitos causem o mesmo efeito?

Hiroshima e Nagasaki são, talvez, os dois exemplos mais claros dos malefícios provenientes do avanço desenfreado e sem ética da tecnologia. Porém, não se pode esquecer outros exemplos como os das guerras com uso de elementos químicos, as atuais guerras de mísseis nucleares e morteiros e os funestos experimentos científicos ocorridos nos campos de concentração da Segunda Guerra, ou ainda as experiências farmacêuticas em povos desprotegidos da África por grandes empresas de medicamentos, e mesmo ainda o memorável 11 de Setembro.

 Podemos ainda falar da “guerra” no uso de aparelhos digitais ultramodernos, aqueles que começam a deixar as pessoas encurvadas pelo mau uso, ou as emudecem no dia-a-dia, senão quando estão “dialogando” na frente da “telinha” (não da TV, como queira a metáfora, pois diante desta, a mudez ainda é maior, mas da telinha, no sentido de pequena mesmo). Convido vocês a assistirem ao vídeo a o lado, mesmo que muitos já o tenham visto em alguma mídia social.

 Quando vejo centenas de jovens, também adultos e mesmo crianças, desperdiçarem seu precioso tempo iludidos com alguns aplicativos sociais do momento, percebo como tais aplicativos são desenvolvidos para segar as pessoas, embotar sua inteligência reflexiva e esconder a realidade de dominação na qual ainda vivemos. Não podemos demonizar esses filhos legítimos da tecnologia, mas também não devemos endeusá-los. A divindade atribuída a seres puramente terrenos frequentemente resulta em erro, caso daquele bezerro de ouro criado pelos hebreus ao saírem do Egito: um símbolo da total escravidão para quem já estava liberto, mas não sabia o que fazer com sua liberdade.

Imagino que essa metáfora exemplifica bem o caso do mau uso da tecnologia feito, especialmente, pelos poderosos, mas ainda por todos, visto que entre os hebreus, a maioria era muito pobre.
O objetivo deste texto não é apontar o avanço tecnológico como erro humano, mas dar um alerta para o fato de que dele podem resultar grandes malefícios e fazer um pouco de justiça à memória de Hiroshima e Nagasaki, 70 anos depois de sua quase total destruição.

Seria hipocrisia de minha parte, sendo um apaixonado por tecnologia, repudiar a importância desta em nossas vidas, quer no passado, quer no presente, e ainda mais no futuro, quando tudo aponta para uma maior dependência da mesma. Sem tecnologia, este texto não estaria neste blog, dedicado à História e à Hipermídia, essa nova “mania” na produção de conhecimento no mundo das mídias, outro lugar com o qual devemos tomar certo cuidado.

Por fim, devemos aprender com os erros para evitarmos novos e maiores erros. Não podemos evitar o mal resultante dos experimentos feitos por poderosos em Hiroshima e Nagasaki, nem podemos corrigir esse erro, mas podemos impedir que novos males e novos erros provenham do mal uso de tecnologias. O passo mais próximo para isso é evitar o endeusamento desta, passando a vê-la e a usá-la apenas como criação humana: extremamente finita, apesar de quase ilimitada.

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